sábado, 22 de fevereiro de 2014

Fallen: Capítulo 10 "Onde há fumaça"

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— O que você está esperando? — Penn perguntou apenas um segundo depois que Justin saiu com Roland. — Vamos.
Ela puxou a mão de Luce.
— Para onde? — perguntou Luce.
Seu coração continuava batendo forte pela conversa com Justin – e da visão dele se afastando. A forma em que seus esculpidos ombros cortavam o corredor fazia parecer maior do que o próprio Justin.
Penn bateu levemente em um lado da cabeça de Luce.
— Oi? Para a biblioteca, como eu disse a você em meu bilhete... — ela captou a expressão em branco de Luce. — Você não recebeu nenhum dos meus bilhetes? — Ela bateu a perna, frustada. — Mas eu entreguei a Todd para passar ao Cam, para passar pra você.
— Correeeeio.
Cam se meteu na frente de Penn e apresentou a Luce dois pedaços de papel dobrado colocados entre o indicador e o dedo médio.
— Me dê um descanso. Teu cavalo morreu de esgotamento no caminho? — Penn bufou, recolhendo os bilhetes. — Eu te dei estes faz uma hora. Por que levou tanto tempo? Você não os leu...
— Claro que não — Cam levou uma mão a seu peito largo, ofendido. Ele usava um grosso anel preto em seu dedo médio. — Se você recorda, Luce se meteu em problemas por trocar bilhetes com Molly...
— Eu não estava trocando bilhetes com Molly...
— Não me importa — disse Cam, pegando os bilhetes da mão de Penn e entregando-os finalmente a Luce. — Eu só estava olhando por seus interesses. Esperando a oportunidade certa.
— Bem, obrigada — Luce meteu os bilhetes em seu bolso e deu de ombros para Penn como se dissesse “tanto faz.”
— Falando de esperar o momento certo — ele continuou. — Eu estava fora no outro dia e vi isto.
Ele tirou uma pequena caixa de jóias de veludo vermelho e o manteve aberto para que Luce visse. Penn deu um puxão no ombro de Luce com a intenção de dar uma olhada.
Dentro, uma fina corrente de ouro que envolvia um pequeno pingente circular com uma linha esculpida no centro e uma pequena cabeça de serpente na ponta.
Luce olhou para ele. Estava brincando com ela?
Ele tocou no pingente.
— Pensei que, depois do outro dia... queria te ajudar a enfrentar seu medo — ele disse em um tom quase nervoso, com medo de que ela não fosse aceitar.
Ela deveria aceitá-lo?
— Só uma brincadeira. Eu gostei. É único, me lembrou você.
Era único. E muito lindo, e isso fez Luce se sentir estranhamente indigna.
— Você foi às compras? — Luce se encontrou perguntando, porque era mais fácil falar de como Cam havia deixado o campus do que estar se perguntando Por que eu? — Pensei que uma das normas da escola é que estamos todos presos aqui.
Cam levantou o queixo ligeiramente e sorriu com os olhos.
— Há maneiras — disse em voz baixa. — Eu te mostrarei um dia. Poderia te mostrar... esta noite?
— Cam, querido — disse uma voz atrás dele.
Era Gabbe, batendo-lhe no ombro. Uma parte fina da frente de seu cabelo era uma trança francesa e presa até atrás de sua orelha, como uma perfeita pequena bandana. Luce a olhou com ciúmes.
— Preciso de sua ajuda com os preparativos — Gabbe ronronou.
Luce olhou ao seu redor e percebeu que eram as únicas quatro pessoas que ficaram na sala de aula.
— Vou dar uma pequena festa em meu quarto mais tarde — Gabbe anunciou, apertando o queixo no ombro de Cam para dirigir-se a Luce e a Penn. — E todos estão indo, certo?
Gabbe, cuja boca parecia sempre pegajosa pelo brilho labial, cujo os cabelos loiros nunca paravam de deixar sua marca no segundo que um cara começava a falar com Luce. Mesmo que Justin tenha dito que não havia nada entre eles, Luce sabia que ela nunca iria ser amiga dessa garota.
Então outra vez, você não tem que gostar de alguém para ir a sua festa, especialmente quando certamente outra pessoa que você gosta, provavelmente vai está lá... Ou ela deveria aceitar a oferta de Cam? Ele estava realmente sugerindo que eles escapassem?
Só ontem, um rumor tinha voado por toda a classe quando Jules e Phillip, o casal língua furada, não apareceram para a aula da Srta. Sophia. Aparentemente, eles tinham tentado sair do campus no meio da noite, para um encontro secreto que saiu errado – e agora estavam em algum tipo de confinamento solitário, cuja localização ainda não era conhecida por Penn.
O mais estranho de tudo foi a Srta. Sophia – que geralmente não tolera os sussurros – não calou os estudantes que fofocavam loucamente durante a aula. Era quase como se quisesse que os estudantes imaginassem o pior castigo possível por quebrar alguma de suas regras ditatoriais.
Luce engoliu em seco, olhando para Cam. Ele ofereceu seu cotovelo, ignorando inteiramente Gabbe e Penn.
— O que me diz, garota? — ele perguntou, soando tão encantadoramente um clássico de Hollywood que Luce se esqueceu de tudo o que tinha acontecido a Jules e a Phillip.
— Desculpe — Penn interrompeu, respondendo a ambos e afastando Luce do cotovelo dele. — Mas nós temos outros planos.
Cam olhou para Penn como se estivesse tentando descobrir de onde ela tinha vindo tão repentinamente. Ele fazia Luce se sentir como uma versão melhor, mais calma, de si mesma. E tinha uma maneira de cruzar em seu caminho no momento certo depois que Justin a tinha feito se sentir exatamente o oposto. Mas Gabbe ainda continuava flutuando ao lado dele, e o aperto de Penn era cada vez mais forte, então finalmente Luce só agitou a mão que ainda estava segurando Cam.
— Hum, talvez da próxima vez! Obrigada pelo colar.
Deixando Cam e Gabbe confusos na sala atrás delas, Penn e Luce saíram de Agustine. Era assustador estar sozinha no escuro edifício tão tarde, e Luce podia dizer pelos ruído apressador das sandálias de Penn nas escadas que ela sentia o mesmo também.
Do lado de fora, havia vento. Uma coruja cantava em sua pequena palmeira. Quando elas passaram sob os carvalhos ao lado do edifício, ganchos desordenados de musgos espanhol tocaram-nas como emaranhados de fios de cabelos.
— Talvez na próxima vez? — Penn imitou a voz de Luce. — O que foi isso?
— Nada... eu não sei — Luce queria mudar de assunto. — Você fez um som muito elegante, Penn — ela disse, rindo enquanto caminhava ao longo do pátio.
— Outros planos... pensei que você se divertiu na festa da semana passada.
— Se você alguma vez andou lendo minha última correspondência, verá por que temos coisas mais importantes em nosso prato.
Luce esvaziou seus bolsos, descobrindo cinco M&M’s não-consumidos, e compartilhando-os com Penn, que fez uma expressão muito Penn – como dizendo que esperava que viessem de um lugar limpo, mas os comeu de todo jeito.
Luce abriu o primeiro bilhete de Penn, no qual parecia uma cópia da página de um dos arquivos da sala de arquivos subterrâneo:
Gabrielle Givens
Cameron Briel
Lucinda Prince
Todd Hammond
LOCALIZAÇÕES ANTERIORES: Todos no Nordeste, com exceção de T. Hammond (Orlando, Flórida)
Ariane Alter
Justin Bieber
Mary Margaret Zane
LOCALIZAÇÕES ANTERIORES: Los Angeles, Califórnia
O grupo de Lucinda foi anotado que chegou em Sword & Cross em 15 de setembro deste ano. O segundo grupo tinha chegado em 15 de março, três anos antes.
— Quem é Mary Margaret Zane? — Luce perguntou, apontando.
— Apenas a muito virtuosa Molly — Penn respondeu.
— O nome de Molly é Mary Margaret? Não é de se estranhar que é tão irritada com o mundo — Luce comentou. — Então, onde você consegue tudo isso?
— Peguei de uma das caixas que a Srta. Sophia derrubou no outro dia — disse Penn. — É a letra da Srta. Sophia.
Luce olhou pra ela.
— O que isso significa? Por que ela tinha a necessidade de guardar isso? Pensava que eles tinham todas as nossas fichas de chegada separadas em nossos arquivos.
— Eles tem. Não consigo entender isso também — Penn respondeu. — E eu quero dizer, que embora você se apresentasse ao mesmo tempo que os outros garotos, não é como se você tivesse algo em comum com eles.
— Eu não poderia ter menos em comum com eles — Luce disse, prevendo o olhar recatado de Gabbe sempre colado ao seu rosto.
Penn coçou o queixo.
— Mas quando Ariane, Molly e Justin apareceram, eles já se conheciam. Creio que eram do mesmo Centro de Recuperação em Los Angeles.
Em algum lugar existia uma chave para a história de Justin. Tinha que ser para ele algo mais que um Centro de Recuperação na Califórnia. Mas pensando em como seria sua reação – que desaparecesse ao horror que Luce poderia ter o interesse de saber algo sobre ele – bem, a fez sentir que tudo o que ela e Penn estavam fazendo era inútil e imaturo.
— Qual é o ponto de tudo isso? — Luce perguntou, de repente irritada.
— Não posso imaginar por que a Srta. Sophia estaria conferindo toda essa informação. Embora a Srta Sophia tenha chegado a Sword & Cross o mesmo dia que Ariane, Justin e Molly... — a voz de Penn abaixou. — Quem sabe? Talvez isso não signifique nada. Aqui mencionam só um pouco de Justin nos arquivos, imaginei que deveria te mostrava tudo o que encontrasse. Por tanto, bilhete B.
Ela apontou para o segundo bilhete na mão de Luce.
Luce suspirou. Parte dela queria deixar a busca e parar de se sentir envergonhada sobre Justin. Outra parte insistente dela ainda ansiava por conhecê-lo melhor... o qual, estranhamente, era muito mais fácil de fazer quando ele não estava tecnicamente presente para lhe dar novos motivos para sentir-se envergonhada.
Ela olhou para o bilhete, uma cópia de um cartão antigo da biblioteca.
Bieber, D. Os Observadores: Mito Medieval
Europa. Seraphim Press, Roma, 1755.
Número de Identificação: R999.318 CR1
— Parece que um dos antepassados de Justin foi um estudioso — Penn falou, lendo por cima do ombro de Luce.
— Isso deve ter sido o que ele quis dizer — Luce disse em voz baixa. Olhou para Penn — ele me disse que o estudo da religião estava em sua família. Isto deve ser o que ele quis dizer.
— Pensei que ele era órfão...
— Não pergunte — Luce disse, agitando sua mão. — É um tema delicado para ele — ela passou o dedo sobre o título do livro. — O que um observador?
— Só há uma maneira de descobrir. Embora possamos viver para lamentar. Porque isto possivelmente parece com o livro mais chato de todos. No entanto — ela acrescentou, batendo seus dedos em sua camisa. — Tomei a liberdade de checar o catálogo. O livro deve estar nas estantes. Você pode me agradecer mais tarde.
— Você é boa.
Luce sorriu. Estava ansiosa por chegar à biblioteca. Se alguém na família de Justin tinha escrito um livro, não poderia ser chato. Ou não para Luce, de qualquer modo. Mas então ela olhou outra coisa que tinha em sua mãos. A caixa aveluda de jóias de Cam.
— O que você acha que isso significa? — ela perguntou a Penn, enquanto começava a caminhar até o mosaico de azulejos das escadas da biblioteca.
Penn deu de ombros.
— Seus sentimentos sobre as serpentes são...
— O ódio, a agonia, a paranoia extrema e o desgosto — Luce listou.
— Talvez seja como... ok, eu costumava ter medo de cactos. Não podia nem me aproximar deles... não ria, alguma vez foi picada por uma dessas coisas? Permanecem em sua pele durante vários dias. Mesmo assim, um ano, no meu aniversário, meu pai me presenteou com onze vasinhos de cactos. A principio eu queria desfazer-me delas. Mas então, você sabe, me acostumei com elas. Deixei de dar a volta a cada momento que eu estava próximo de um. No final, superei totalmente.
— Então você está me dizendo que o presente de Cam é na verdade muito suave.
— Eu acho — disse Penn. — Mas se eu soubesse que ele estava louco por ti, eu não teria confiado nossa correspondência particular a ele. Desculpe por isso.
— Ele não está louco por mim — Luce começou a dizer, tocando o pingente de ouro dentro da caixa, imaginando como seria o aspecto contra sua pele, ela não tinha contado nada a Penn sobre seu dia de campo com Cam, porque – bem, ela realmente não sabia o por que. Isto tinha haver com Justin, e como Luce ainda não sabia se queria estar ou não estar – com qualquer um deles.
— Há — Penn falou. — O que significa que você gosta um pouco dele! Traindo Justin. Eu não posso continuar com você e seus homens.
— Como se estivesse acontecendo algo com qualquer um deles — Luce falou com tristeza. — Acha que Cam leu os bilhetes?
— Se ele fez isso e ainda te deu esse colar, então ele realmente gosta de você.
Elas entraram na biblioteca e as pesadas portas duplas deram um golpe surdo atrás delas. O som resoou na sala. A Srta. Sophia levantou a vista das montanhas de papéis que cobriam sua mesa à fraca luz.
— Oh, oi, garotas — ela cumprimentou, sorrindo de maneira tão ampla que Luce se sentia culpada de novo pela bagunça que aconteceu durante sua aula. — Espero que tenham desfrutado de minha breve sessão de estudos.
— Muito — Luce assentiu com a cabeça, embora não tenha escrito nada a respeito. — Nós viemos aqui para revisar algumas coisas antes do exame.
— Isso mesmo — interveio Penn. — Você nos inspirou.
— Que maravilhoso! — Sussurrou Srta. Sophia através de sua papelada. — Tenho uma nova lista de leitura em alguma parte. Ficarei feliz em fazer uma cópia.
— Genial — mentiu Penn, dando a Luce um pequeno empurrão até as estantes. — Nós a deixaremos saber se precisarmos.
Do outro lado da mesa da Srta. Sophia, a biblioteca estava em silêncio. Luce e Penn seguiam olhando os números de identificação enquanto passavam de estante em estante até os livros de religião. As lâmpadas que poupavam energia detectavam o movimento e se acendiam a cada vez que cruzavam um corredor, mas só a metade delas funcionavam. Luce percebeu que Penn ainda segurava seu braço, e então percebeu que não queria que ela soltasse.
As garotas chegaram a sessão de estudos que em geral estava lotada, onde só tinha uma lâmpada de mesa queimada. Todo mundo devia estar na festa de Gabbe. Todo mundo exceto Todd. Ele tinha os pés levantados na cadeira em frente a ele e parecia estar lendo um atlas mundial do tamanho de uma mesa de café. Quando as garotas caminhavam até ele, ele as olhou com uma expressão que queria dizer que ou estava muito bem sozinho ou ligeiramente irritado por ter sido perturbado.
— Vocês, garotas, estão atrasadas — disse categoricamente.
— Assim como você — replicou Penn, mostrando a língua dramaticamente.
Quando tinham posto algumas estantes entre elas e Todd, Luce arqueou uma sobrancelha a Penn.
— O que foi isso?
— O quê? Ele paquera comigo.
Ela cruzou os braços sobre peito e soprou um cacho de seu cabelo marrom dos olhos.
— Como assim? Você está na quarta série? — Luce brincou.
Penn levantou o dedo indicador para Luce com uma intensidade que teria feito Luce saltar se ela não estivesse rindo muito.
— Você conhece mais alguém que quer mergulhar na história da família de Justin Bieber com você? Acho que não. Deixe-me em paz.
Até então, tinham chegado ao canto traseiro da biblioteca, onde todos os 999 livros se organizavam ao longo de uma única estante de cor metal. Penn se agachou e traçou a lombada dos livros com seus dedos, Luce sentiu um tremor, como se alguém percorresse um dedo pelo seu pescoço. Ela esticou a cabeça ao redor e viu uma nuvem de fumaça cinza. Não negra, como eram as sombras em geral, senão mais leve, mas fina. Mas igualmente indesejada.
Ela observou com os olhos arregalados, com a sombra estendida em um longo traço diretamente sobre a cabeça de Penn. Desceu lentamente, como uma agulha enfiada e Luce não queria pensar no que poderia acontecer se tocasse em sua amiga. No outro dia no ginásio tinha sido a primeira vez que a sombra a tinha tocado – e ela ainda se sentia violada, quase suja. Ela não sabia que outra coisa elas podiam fazer.
Nervosa, insegura, Luce esticou o braço como se fosse um bastão de baseball. Deu uma respiração profunda e lançou para frente. Arrepiou-se ao contato frio enquanto afastava a sombra – e golpeou o topo da cabeça de Penn.
Penn pressionou suas mãos contra seu crânio e olhou Luce em choque.
— Qual é o seu problema?
Luce se sentou junto a ela e tocou a parte de cima do cabelo de Penn.
— Desculpe. Havia... pensei que vi uma abelha... pousar em sua cabeça. Me assustei. Não queria que te picasse.
Ela podia sentir quão absurdamente, totalmente pobre essa desculpa era e esperou que sua amiga lhe dissesse que ela estava louca – por que uma abelha estaria em uma biblioteca? Ela esperou que Penn ficasse furiosa. Mas o rosto redondo de Penn se suavizou. Ela pegou a mão de Luce entre a sua e as agitou.
— As abelhas me aterrorizam também — ela contou. — Sou mortalmente alérgica. Basicamente você salvou a minha vida.
Foi como se tivessem um grande momento de conexão – só que não era, porque Luce estava completamente consumida pelas sombras. Se tão somente pudesse afastá-las de sua mente, afastar as coisas das sombras, sem assustar Penn. Luce tinha um forte e inquieto pressentimento sobre esta sombra cinza-clara. A uniformidade das sombras nunca tinham sido reconfortantes, mas estas últimas variações eram novas em um nível desconcertante.
Significava que mais tipos de sombras estavam encontrando uma maneira de chegar a ela? Ou só era ela que estava ficando melhor em distingui-las? E o que era este estranho momento durante a leitura da Srta. Sophia, quando ela praticamente exortou uma sombra antes que pudesse entrar em seu bolso? Ela tinha feito isso sem pensar, e não tinha razão para esperar que seus dois dedos pudessem fazer algo à sombra, mas eles tinham feito – ela deu uma olhada ao redor das estantes – pelo menos temporariamente.
Ela se perguntava se ela tinha arrumado algum tipo de precedente para interagir com as sombras. Exceto que para chamar o que ela tinha feito com a sombra pairando sobre a cabeça de Penn de “interagir” – inclusive Luce sabia que era um eufemismo. Um frio e doentio sentimento cresceu em seu interior quando percebeu que o que ela tinha começado a fazer com as sombras era mais como... lutar com elas.
— Essa é a coisa mais estranha — Penn falou do chão. — Deveria ser exatamente aqui entre O Dicionário dos Anjos e esta coisa horrível de Billy Graham fogo-e-enxofre. — Ela levantou a vista para Luce. — Mas sumiu.
— Pensei que você tivesse dito...
— Eu disse. O computador tinha listado as estantes quando procurei esta tarde, mas não podemos conectar a esta hora para checar de novo.
— Pode perguntar à Todd — Luce sugeriu. — Talvez ele esteja usando como capa para suas Playboys.
— Que nojento — Penn bateu em sua coxa.
Luce saiba que só tinha feito essa brincadeira para baixar um pouco sua decepção. Isso era tão frustrante. Ela não podia encontrar nada sobre Justin sem correr contra uma parede. Ela não sabia o que poderia encontrar nessas páginas do livro de sua tatara-tatara-o que seja do livro, mas pelo menos lhe diria algo mais sobre Justin. No qual era melhor que nada.
— Fique aqui — disse Penn, levantando-se. — Vou perguntar para a Srta. Sophia se alguém o tirou hoje.
Luce a observou ir sobre o longo corredor até a mesa da frente. Ela riu quando Penn apertou o passo quando passou pela área onde Todd estava sentado.
Sozinha no canto de trás, Luce roçou alguns dos outros livros na estante. Ela fez uma rápida e mental revisão de todos os estudantes na Sword & Cross, mas não podia pensar em nenhum candidato para tirar um velho livro de religião. Talvez a Srta. Sophia tinha usado como referência para sua sessão de revisão mais cedo.
Luce se perguntou o que deve ter sido para Justin ficar sentado lá, escutando a bibliotecária falar sobre coisas que tinham sido provavelmente temas da mesa de jantar em sua casa quando ele estava crescendo. Luce queria saber como tinha sido a infância dele. O que tinha acontecido a sua família? Teve sua educação em um orfanato religioso? Ou tinha sido sua infância como a dela, onde as únicas coisas perseguidas religiosamente eram boas notas e honras acadêmicas? Ela queria saber se Justin tinha lido este livro escrito por seu ancestral e o que ele tinha pensado sobre isso, e se ele gostava de escrever.
Ela queria saber o que ele estava fazendo exatamente agora na festa de Gabbe e quando era seu aniversário e qual o tamanho do sapato que usava e se ele alguma vez desperdiçou um segundo de seu tempo pensando nela.
Luce sacudiu sua cabeça. Este tipo de pensamento estava dirigindo-se diretamente a Cidade da Piedade, e ela queria sair. Tirou o primeiro livro da estante – a tão desinteressante surrada capa do Dicionário dos Anjos – e decidiu se distrair lendo até que Penn voltasse.
Ela tinha ido até o ponto quando o anjo caído Abbadon, que se arrependeu de estar do lado de Satanás e constantemente lamentava sua má decisão – bocejo – quando um som forte soou sobre sua cabeça. Luce olhou para cima para ver a luz vermelha do alarme de incêndio.
Alerta. Alerta — uma monótona voz robótica anunciava em voz alta. — O alarme de incêndio foi ativado. Evacuem o prédio.
Luce deslizou o livro de volta para a estante e começou a correr. Eles tinham feito este tipo de coisa em Dover o tempo todo. Depois de um tempo, tinha chegado ao ponto onde nem mesmo os professores ouviam as simulações de incêndios mensalmente, então o Departamento de Bombeiros tinha realmente começado a configurar o alarme só para as pessoas responderem.
Luce podia ver claramente os administradores da Sword & Cross fazendo a mesma coisa. Mas quando ela começou a caminhar até a saída, foi surpreendida ao encontrar-se tossindo. Tinha fogo de verdade na biblioteca.
— Penn? — Ela gritou, escutando o eco de sua voz em seus ouvidos.
Ela sabia que seria abafada pelo ruído do alarme. O odor da fumaça a fez instantaneamente voltar às chamas na noite com Trevor. Imagens e sons flutuavam em sua cabeça, coisas que ela tinha abafado tão profundamente de sua memória que poderiam muito bem ter sido apagadas. Até agora.
Os surpreendentes olhos brancos de Trevor contra a luz alaranjada. As individuais chamas enquanto o fogo se dispersava entre cada um de seus dedos. O agudo e interminável grito que ressoava em sua cabeça como uma sirene muito depois que Trevor tivesse dado por vencido. E todo o tempo, ela tinha estado ali parada, observando, ela não podia deixar de ver, congelada neste banho de calor. Ela não tinha sido capaz de mover-se. Ela não tinha sido capaz de fazer algo para ajudá-lo. Então ele morreu.
Sentiu alguém agarrar seu pulso esquerdo e se virou, esperando ver Penn. Era Todd. O branco de seus olhos eram enormes, e ele estava tossindo também.
— Temos que sair daqui — ele disse, respirando rápido. — Acho que a saída está na parte de trás.
— E Penn e a Srta. Sophia? — Luce perguntou.
Ela estava se sentindo fraca e enjoada. Esfregou os olhos.
— Elas estavam ali.
Quando ela apontou para o corredor até a entrada, ela podia ver o quanto a fumaça tinha se tornado mais grossa nesta direção.
Todd olhou receoso por um segundo, mas depois assentiu.
— Ok — ele disse, mantendo-se agarrado ao pulso dela enquanto se agachavam e corriam até as portas principais da biblioteca.
Foram para a direita quando um corredor parecia particularmente estar cheio de fumaça, encontraram-se em uma parede de livros sem nenhuma pista de até onde correr. Os dois pararam para respirar.
A fumaça que só a alguns momentos estava sobre suas cabeças, agora pressionava abaixo de seus ombros. Ainda agachados nela, eles estavam se asfixiando. E não podiam ver nada mais que alguns metros à frente deles. Certificando-se de se manter agarrada a Todd, Luce deu uma volta em círculo, repentinamente insegura de qual direção eles tinham vindo. Ela estendeu a mão e sentiu um metal quente de uma estante. Ela nem sequer podia ver os títulos nos livros. Estavam na sessão de D ou O?
Não tinham pista que guiasse até Penn e a Srta. Sophia, e nenhuma pista que os guiassem para a saída tampouco. Luce sentiu uma onda de pânico passar por ela, fazendo mais difícil respirar,
— Elas já devem ter saído pelas portas da frente! — Todd gritou, parecendo meio convencido. — Temos que voltar!
Luce mordeu seu lábio. E se alguma coisa aconteceu com Penn? Ela mal podia ver Todd, que estava parado exatamente em frente a ela. Ele tinha razão, mas qual era o caminho de volta?
Luce assentiu silenciosamente, e sentiu a mão dele tomando a dela.
Por um longo tempo, ela se moveu sem saber onde estavam indo, mas enquanto eles seguiam, a fumaça se desvanecia, pouco a pouco, até que, eventualmente, ela viu o brilho vermelho da saída de emergência. Luce deu um suspiro de alívio enquanto Todd procurava pela maçaneta da porta e finalmente a abriu.
Eles estavam em um corredor que Luce jamais tinha visto. Todd fechou a porta atrás deles. Eles tossiram e encheram seus pulmões com ar limpo. Tinha um gosto tão bom, Luce queria afundar seus dentes nisso, beber um galão disso, banhar-se nisso.
Ela e Todd tossiram a fumaça para fora de seus pulmões até que começaram a rir, uma inquieta, quase aliviada risada. Eles riram até que ela estava chorando. Mas mesmo quando Luce terminou de chorar e tossir, seus olhos continuavam lacrimejando. Como podia respirar neste ar quando ela nem sequer sabia o que tinha acontecido a Penn? E se Penn não tinha conseguido sair – se estava presa em algum lugar lá dentro – então Luce tinha falhado com alguém a quem lhe importava novamente. Só que desta vez seria muito pior.
Ela limpou os olhos e viu uma nuvem de fumaça passando por baixo da rachadura da base da porta. Ainda não estavam a salvo. Tinha outra porta no final do corredor. Através do painel de cristal da porta, Luce podia ver a forma de um ramo de uma árvore na noite. Exalou. Em pouco tempo, estariam do lado de fora, longe dessa fumaça intoxicante.
Se fossem o suficiente rápido, podiam ir para a entrada principal e assegurar-se de que Penn e a Srta. Sophia tinham saído.
— Vamos — Luce falou a Todd, que estava curvado, respirando com dificuldade. — Temos que continuar.
Ele se endireitou, mas Luce podia ver que estava realmente mal. Seu rosto estava vermelho, seus olhos eram selvagens e molhados. Ela praticamente teve que arrastá-lo até a porta. Ela estava tão concentrada em sair dali que levou um tempo para processar o pesado ruído que tinha caído sobre eles, silenciando o alarme.
Ela olhou para o redemoinho de sombras. Um espectro de sombras de tons de cinza e o mais profundo negro. Ela só devia ser capaz de ver um pouco mais sobre o teto, mas as sombras pareciam de alguma maneira estender-se sobre os limites, em um estranho e escondido céu. Todas estavam amontoadas umas sobre as outras, mas ainda assim, de alguma maneira eram distintas.
No meio delas estava a sombra mais clara e cinza que ela tinha visto anteriormente. Não era mais da forma alongada de uma agulha, mas agora parecia quase como a chama de um fósforo. Se balançou até eles no corredor. Ela realmente tinha apartado essa forma obscura quando tinha ameaçado esfolar a cabeça de Penn? A recordação fez com que suas palmas lhe coçassem e seus dedos se enrolarem.
Todd começou a bater-se contra as paredes, como se o corredor estivesse aproximando-se dele. Luce sabia que eles estavam em algum lugar próximos da porta. Ela pegou sua mão, mas suas mãos suadas se deslizaram uma e outra vez. Ela enrolou seus dedos fortemente ao redor do pulso dele. Ele estava tão pálido como um fantasma, agachou-se do chão, quase encolhido. Um gemido de pavor escapou de seus lábios.
Era porque a fumaça agora estava chegando no corredor? Ou era porque ele também podia ver as sombras? Impossível.
Ainda assim, seu rosto estava comprimido e horrorizado. Muito mais agora que as sombras estavam aproximando-se.
— Luce? — Sua voz tremeu.
Outra onda de sombras se levantou diretamente em seu caminho. Uma cortina negra intensa se estendeu sobre as paredes e fez impossível para Luce ver o chão. Ela olhou para Todd – ele podia ver isso?
— Corre! — Ela gritou.
Ele ainda podia correr? Seu rosto estava cinzento e suas pálpebras fechadas. Ele estava a ponto de desmaiar. Mas então, repentinamente parecia como se ele estivesse carregando-a. Ou algo estava carregando os dois.
— Que diabos...? — Todd gritou.
Seus pés se levantaram do chão só por um momento. Sentiu como se estivesse em uma onda no oceano, um cume leve que a levantava mais alto, levando seu corpo ao ar. Luce não sabia até onde iria – ela nem sequer podia ver a porta, só um monte de sombras ao redor. Próximas dela, mas não a tocaram. Ela deveria ter estado horrorizada, mas não estava. De alguma maneira se sentia protegida das sombras, como se algo a estivesse protegendo – algo flexível mas impenetrável. Algo estranhamente familiar. Algo forte, mas gentil. Algo... quase muito rápido, ela e Todd estavam na porta. Seus pés tocaram o chão de novo, e ela se lançou contra porta de emergência.
Então ela soltou. Sufocada. Ofegante. Com ânsia de vômito.
Outro alarme estava soando. Mas estava soando muito longe.
O vento roçou seu pescoço. Eles estavam do lado de fora! Parados em um pequeno peitoral, um lance de escadas chegavam até a área principal, e inclusive quando tudo em sua cabeça se sentia nublado e cheio de fumaça, Luce pensou que podia escutar vozes em algum lugar próximo. Ela virou para tentar saber o que tinha acontecido. Como ela e Todd tinham saído através dessa grossa, negra e impenetrável sombra? E o que era essa coisa que os tinha salvo? Luce sentiu sua ausência. Ela quase queria voltar para procurá-la. Mas o corredor estava escuro, e seus olhos ainda estavam cheios de lágrimas, e ela já não podia distinguir as retorcidas formas das sombras. Talvez tivessem ido.
Depois houve uma irregular pincelada de luz, algo que parecia com o tronco de árvore com ramos – não, como um torço amplos, longos membros. Uma pulsante, quase violeta coluna de luz movendo-se pra cima deles. Isso fez com que Luce pensasse, absurdamente, em Justin. Ela estava vendo coisas. Ela respirou fundo e tentou piscar as lágrimas de fumaça de seus olhos. Mas a luz ainda estava ali. Ela sentia mais que ouvi-la chamar, acalmando-a, uma canção de ninar em meio a uma zona de guerra.
Então ela não viu chegar a sombra.
Bateu no corpo dela e de Todd, rompendo a ligação um do outro, e lançando Luce no ar.
Ela aterrissou ao pé das escadas. Um grunhido agonizante escapou de seus lábios. Por um longo momento sua cabeça latejava. Ela nunca tinha conhecido uma dor tão profunda e abrasadora como esta. Ela chorou durante a noite, no conflito de luz e sombra sobre sua cabeça. Então tudo se tornou muito e Luce se entregou, fechando os olhos.

Continua...

4 comentários:

  1. Mana vai continuar não ??? Ou vc quer matar todo mundo aq de curiosidade? Por favor...Posta mais capitulos tambem das outras fics please ???

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    1. Onnww flor eu queria tanto ter tempo de postar todos os dias, mas não da, nem no carnaval eu tenho tempo, eu juro que vou tentar postar mais vezes :)

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