quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Fallen: Capítulo 7 "Esclarecendo"

                                

— Você vai para onde agora? — Cam perguntou, abaixando seu óculos de plástico vermelho.
Ele apareceu do lado de fora da entrada de Augustine tão repentinamente que Luce quase trombou diretamente com ele. Ou talvez ele tenha estado ali por um tempo e ela simplesmente não tinha notado em sua pressa de chegar na aula. De qualquer jeito, seu coração começou a bater rapidamente e suas palmas começaram a suar.
— Hmm, aula? — Luce respondeu.
Por que, onde parecia que ela estava indo? Seus braços estavam cheios, com seus dois livros pesados de cálculo e sua tarefa de religião parcialmente completa. Essa seria uma boa hora para se desculpar por ir embora tão repentinamente ontem à noite. Mas ela não conseguia se forçar a fazer isso. Ela já estava tão atrasada. Não tivera água quente nos chuveiros do vestiário, então tivera que voltar para o dormitório. De algum modo, o que acontecera após a festa não parecia mais importante. Ela não queria chamar ainda mais atenção a sua saída – especialmente não agora, depois do Justin tê-la feito se sentir tão patética. Ela também não queria que Cam pensasse que ela estava sendo rude. Ela só queria evitá-lo e ficar sozinha, para que pudesse se desvencilhar da série de envergonhamentos dessa manhã.
Exceto que – quanto mais Cam olhava para ela, menos importante parecia ir embora. E menos o orgulho de Luce doía pela recusa de Justin. Como um olhar do Cam poderia fazer tudo isso?
Com sua pele clara e pálida e cabelo azeviche, Cam era diferente de qualquer cara que ela já conhecera. Ele exalava confiança, e não só porque ele conhecia todo mundo – e como conseguir tudo – antes que Luce tivesse ao menos descoberto onde suas aulas eram. Bem ali, parado do lado de fora do prédio da escola monótono e cinza, Cam parecia com uma fotografia artística em preto-e-branco, suas lentes vermelhas em tecnicolor.
— Aula, hein?
Cam bocejou dramaticamente. Ele estava bloqueando a entrada, e algo no jeito divertido que sua boca estava posicionada fez Luce querer saber que ideia louca ele tinha escondida. Havia uma sacola de tela pendurada em seu ombro, e um copo descartável de café expresso entre seus dedos.
Ele apertou stop em seu iPod, mas deixou os fones pendurados ao redor do seu pescoço. Parte dela queria saber que música ele estivera escutando, e onde ele tinha conseguido aquele café expresso do mercado negro. O sorriso brincalhão visível apenas em seus olhos verdes a desafiavam a perguntar.
Cam tomou um gole superficial do seu café. Levantando seu dedo indicador, ele disse:
— Permita-me compartilhar meu lema sobre as aulas da Sword & Cross: Antes nunca do que tarde.
Luce riu, e então Cam empurrou seus óculos de volta para o nariz. As lentes eram tão escuras, ela não conseguia ver nem um traço de seus olhos.
— Além do mais — ele sorriu, relampejando um arco branco de dente — é quase almoço, e eu tenho um piquenique.
Almoço? Luce não tinha tomado nem café-da-manhã ainda. Mas seu estômagoestava rosnando – e a ideia de ser perfurada pelo Sr. Cole por perder todas as aulas da manhã exceto pelos últimos vinte minutos parecia menos e menos atraente quanto mais eu ficava perto do Cam.
Ela assentiu para a sacola que ele estava segurando.
— Você empacotou o bastante para dois?

***

Dirigindo Luce com uma mão ampla na parte debaixo de suas costas, Cam a guiou para as áreas comuns, passou pela biblioteca e o dormitório deplorável. Nos portões de metal para o cemitério, ele parou.
— Eu sei que esse é um lugar esquisito para um piquenique — ele explicou — mas é o melhor local que conheço para ficar fora de vista por um tempinho. No campus, de qualquer maneira. Às vezes eu simplesmente não consigo respirar lá.
Ele gesticulou na direção do prédio.
Luce conseguia definitivamente concordar com isso. Ela se sentia reprimida e exposta quase o tempo todo nesse lugar. Mas Cam parecia a última pessoa que iria partilhar daquela síndrome de aluno novo. Ele era tão... controlado. Depois daquela festa ontem à noite, e agora o café expresso proibido em sua mão, ela nunca adivinharia que ele se sentia sufocado também. Ou que ele a escolheria para compartilhar essa sensação.
Por trás da cabeça dele, ela conseguia ver o resto do campus precário. Daqui, não havia muita diferença entre um lado dos portões do cemitério e o outro.
Luce decidiu ir na onda.
— Só prometa me salvar se alguma estátua cair.
— Não — Cam disse com uma seriedade que apagou efetivamente sua piada. — Isso não acontecerá novamente.
Os olhos dela caíram no local onde, apenas alguns dias antes, ela e Justin tinham chegado perto deles próprios terminarem no cemitério. Mas o anjo de mármore que tinha caído sobre eles tinha desaparecido, seu pedestal vazio.
— Vamos — Cam falou, arrastando-a junto com ele.
Eles evitaram retalhos abandonados de ervas daninhas, e Cam ficava se virando para ajudá-la a passar por montes de terra desenterrados por sabe Deus quem.
Numa hora, Luce quase perdeu seu equilíbrio e se agarrou a uma das lápides para se firmar. Era uma laje ampla e polida com um lado áspero e inacabado.
— Eu sempre gostei dessa — Cam comentou, gesticulando para a lápide rosada sob seus dedos.
Luce cruzou até a frente do terreno para ler a inscrição.
— Joseph Miley — ela leu em voz alta —1821 a 1865. Serviu bravamente na Guerra da Agressão do Norte. Sobreviveu a três balas e a cinco cavalos caídos em cima dele antes de encontrar sua paz final.
Luce estralou suas juntas. Talvez Cam só gostasse porque sua pedra rosada polida se destacava entre quase todas as cinzentas? Ou por causa dos complexos verticílios pelo topo? Ela ergueu uma sobrancelha para ele.
— É — Cam deu de ombros. — Eu simplesmente gosto de como a lápide explica o jeito que ele morreu. É honesto, sabe? Geralmente, as pessoas não querem falar sobre isso.
Luce desviou o olhar. Ela sabia isso muito bem pelo epigrafo inescrutável na lápide do Trevor.
— Pense no quanto mais interessantes esse lugar seria se a causa da morte de todo mundo fosse revelada. — Ele apontou para um pequeno túmulo a alguns lotes do de Joseph Miley. — Como você acha que ela morreu?
— Hm, escarlatina? — Luce adivinhou, vagueando.
Ela contou as datas com seus dedos. A garota enterrada aqui era mais nova do que Luce quando morrera. Luce não queria realmente pensar muito em como poderia ter acontecido.
Cam inclinou sua cabeça, considerando.
— Talvez. Ou isso ou um incêndio misterioso no celeiro enquanto a jovem Betsy estava tirando uma “soneca” inocente com o vizinho.
Luce começou a fingir estar ofendida, mas ao invés, o rosto esperançoso a fez rir. Fazia tanto tempo desde que ela tinha simplesmente se divertido com um cara. Claro, essa cena era um pouco mais mórbida do que os típicos flertes no estacionamento de um cinema ao quais ela estava acostumada, mas também eram os estudantes na Sword & Cross. De um jeito ou de outro, Luce era um deles agora.
Ela seguiu Cam para o fundo de um cemitério no formato de tigela e para tumbas e mausoléus mais ornado. Na inclinação acima, as lápides pareciam estar olhando para baixo na direção deles, como se Luce e Cam fossem artistas em um anfiteatro. O sol do meio-dia brilhava laranja através de folhas de um carvalho vivo gigante no cemitério, e Luce colocou as mãos na frente dos olhos. Era o dia mais quente que eles tinham tido na semana toda.
— Agora, esse cara — Cam disse, apontando para uma tumba enorme emoldurada por colunas de ordem coríntia. — Um desertor total. Ele sufocou quando uma viga caiu em seu porão. O que te mostra, nunca se esconda de uma captura dos Confederados.
— É mesmo? Me lembre o que te faz o especialista sobre tudo isso?
Mesmo enquanto ela provocava-o, Luce se sentia estranhamente privilegiada por estar aqui com Cam. Ele ficava olhando para ela para se certificar de que ela estava sorrindo.
— É só um sexto sentido. — Ele relampejou seu sorriso enorme e inocente. — Se gosta disso, tem um sétimo sentido, e um oitavo sentido, e um nono sentido de onde esse vem.
— Impressionante — ela sorriu. — Eu me satisfarei com o sentido do paladar agora. Estou morrendo de fome.
— Ao seu serviço.
Cam puxou uma coberta de sua sacola e a esticou em um pedaço de sombra sob o carvalho vivo. Ele abriu a garrafa térmica e Luce conseguiu sentir o cheiro de café expresso forte. Ela geralmente não bebia café preto, mas observou enquanto ele enchia um copo com gelo, serviu o café expresso, e acrescentou exatamente a quantidade certa de leite em cima.
— Eu esqueci de trazer o açúcar — ele disse.
— Eu não bebo com açúcar.
Ela tomou um gole do café gelado ultra-seco, seu primeiro gole deliciosos da cafeína proibida da Sword & Cross em toda a semana.
— Que sorte — Cam disse, espalhando o resto do piquenique.
Os olhos de Luce alargaram-se enquanto ela observava-o arrumar a comida: uma baguete marrom-escura, uma rodela pequena de queijo fedorento, um pote de azeitonas laranja amarronzado, uma tigela de ovos apimentados e duas maçãs verdes brilhantes. Não parecia possível que Cam tivesse enfiado tudo isso em sua sacola – ou se que estivera planejando comer toda essa comida sozinho.
— Onde conseguiu isso? — Luce perguntou. Fingindo se focar em despedaçar um pedaço grande de pão, ela perguntou — e com quem você estava planejando um piquenique antes de eu aparecer?
— Antes de você aparecer? — Cam riu. — Eu mal consigo me lembrar da minha triste vida antes de você.
Luce lançou-lhe um ligeiro olhar depreciativo para que ele soubesse que ela achou a observação dele incrivelmente brega... e só um pouquinhozinho charmosa. Ela se reclinou em seus cotovelos no cobertor, suas pernas cruzadas nos tornozelos. Cam estava sentado de pernas cruzadas a encarando, e quando ele se esticou na direção dela para pegar a faca do queijo, seu braço roçou, então descansou, no joelho da calça jeans preta dela. Ele olhou para ela, como se para perguntar,Tudo bem?
Quando ela não recuou, ele ficou ali, pegando o pedaço grande de baguete da mão dela e usando a perna dela como um tampo de mesa enquanto ele espalhava um triângulo de queijo no pão. Ela gostava da sensação do peso dele nela, e nesse calor, isso era dizer muito.
— Eu vou começar com a pergunta mais fácil primeiro — ele disse, finalmente se sentando. — Eu ajudo na cozinha alguns dias por semana. Parte do meu acordo de readmissão na Sword & Cross. Eu devia estar “devolvendo” — ele revirou seus olhos. — Mas não me incomodo de estar lá. Acho que gosto do calor. Isso é, se você não contar as queimaduras de gordura.
Ele mostrou seus punhos virados para cima para expor dúzias de minúsculas cicatrizes em seus antebraços.
— Perigos do trabalho — ele disse casualmente. — Mas eu gerencio a dispensa.
Luce não conseguiu resistir a correr seus dedos por elas, os inchaços pálidos infinitesimais desbotando em sua pele ainda mais pálida. Antes que ela pudesse se sentir envergonhada por sua audácia e recuar, Cam agarrou sua mão e apertou.
Luce encarou os dedos dele entrelaçados ao redor dos dela. Ela não tinha percebido antes o quanto os tons das peles deles combinavam acuradamente. Em um cenário de sulistas bronzeados, a palidez de Luce sempre a deixara autoconsciente. Mas a pele de Cam era tão impressionante, tão notável, quase metálica – e agora ela percebeu que poderia parecer a mesma coisa para ele. Os ombros dela estremeceram e ela se sentiu um pouco tonta.
— Você está com frio? — ele perguntou silenciosamente.
Quando ela encontrou com os olhos dele, sabia que ele sabia que ela não estava com frio. Ele se aproximou no cobertor e abaixou sua voz para um sussurro.
— Agora acho que você vai querer que eu admita que pulei a janela da cozinha e empacotei tudo isso na esperança de convencê-la a matar aula comigo?
Agora seria quando ela teria pescado o gelo em sua bebida, se já não tivesse derretido no calor fedorento de setembro.
— E você fez esse esquema toda de um piquenique romântico — ela terminou. — No cenário de um cemitério?
— Ei — ele correu um dedo pelo lábio inferior dela. — Você é quem está trazendo o romance à tona.
Luce recuou. Ele estava certo – fora ela quem presumira... pela segunda vez no dia. Ela conseguia sentir suas bochechas queimando enquanto tentava não pensar em Justin.
— Estou brincando — ele falou, balançando sua cabeça para o olhar chocado no rosto dela. — Como se não fosse óbvio.
Ele olhou para um urubu-de-cabeça-vermelha circulando uma grande estátua branca no formato de um canhão.
— Eu sei que aqui não é nenhum Éden — ele continuou, jogando uma maçã para Luce — mas simplesmente finja que estamos numa música dos Smith. E para meu crédito, não é como se tivesse muito com que se trabalhar nessa escola.
E isso pegando leve.
— Do meu ponto de vista — Cam disse, reclinando-se no cobertor — a localização é insignificante.
Luce lançou-lhe um olhar duvidoso. Ela também desejou que ele não tivesse recuado, mas era tímida demais para se aproximar quando ele reclinava.
— Onde eu cresci — ele pausou — as coisas não eram tão diferentes do estilo de vista penitenciário da Sword & Cross. O resultado é que eu estou oficialmente imune ao meu arredor.
— De jeito nenhum — Luce balançou sua cabeça. — Se eu te desse uma passagem de avião para a Califórnia agora mesmo, você não ficaria totalmente animado de cair fora daqui?
— Hmm... indulgentemente indiferente.
Ele enfiou um ovo apimentado em sua boca.
— Eu não acredito em você.
Luce deu-lhe um empurrão.
— Então você deve ter tido uma infânciafeliz.
Luce mordeu a pele verde mastigável da maçã e lambeu o suco escorrendo de seus dedos. Ela percorreu um catálogo mental de todas as franzidas de seus pais, as visitas a médicos e mudanças escolares de sua infância, as sombras negras pairando como uma mortalha sobre tudo. Não, ela não diria que teve uma infância feliz. Mas se Cam não conseguia nem ao menos ver uma saída da Sword & Cross, algo mais esperançoso no horizonte, então talvez a dele tenha sido pior.
Houve um farfalhar aos pés deles e Luce se encolheu quando uma grossa cobra verde e amarela deslizou. Tentando não chegar muito perto, ela ficou de joelhos e espiou-a. Não só uma cobra, mas uma cobra no meio da troca de pele. Um invólucro translúcido estava saindo de sua cauda.
Tinha cobras por toda a Geórgia, mas ela nunca tinha visto uma se trocar.
— Não grite — Cam aconselhou, descansando uma mão no joelho de Luce. O toque dele fez Luce se sentir mais a salvo. — Ela seguirá se simplesmente a deixarmos em paz.
Não podia demorar mais. Luce queria muito gritar. Ela sempre odiara e temera cobras. Elas eram simplesmente tão escorregadias e escamosas e...
— Ui.
Ela estremeceu, mas não conseguiu tirar seus olhos da cobra até que tivesse desaparecido na grama alta. Cam sorriu forçadamente enquanto pegava a pele caída e a colocava na mão dela. Ainda parecia viva, como a pele fresca de um bulbo de alho que seu pai tinha colhido de seu jardim. Mas tinha acabado de sair de uma cobra. Nojento. Ela a jogou de volta no chão e limpou suas mãos na sua calça jeans.
— Vamos, você não achou que era bonitinho?
— A minha tremedeira revelou isso?
Luce já estava se sentindo um tanto envergonhado pelo quanto ela deve ter parecido uma criança.
— E quanto a fé no poder da transformação? — Cam perguntou, dedilhando a pele caída. — É por isso que estamos aqui, afinal.
Cam tinha tirado seus óculos de sol. Seus olhos esmeralda estavam tão confiantes. Ele estava naquela pose imóvel inumana novamente, esperando que ela respondesse.
— Estou começando a achar que você é um pouquinho estranho — ela disse finalmente, dando um pequenino sorriso.
— Ah, e só pense no quanto mais há para se conhecer sobre mim — ele respondeu, inclinando-se para mais perto. Mais perto do que ele estivera quando a cobra chegou. Mais perto do que ela estivera esperando que ele chegasse. Ele esticou sua mão e correu seus dedos lentamente pelo cabelo dela. Luce ficou tensa.
Cam era lindo e intrigante. O que ela não conseguia entender era como, quando ela devia estar uma pilha de nervos – como bem agora – ela ainda, de algum modo, se sentia confortável. Ela queria estar exatamente onde estava. Ela não conseguia tirar seus olhos dos lábios dele, que eram cheios e rosados e estavam se movendo mais para perto, fazendo-a se sentir ainda mais tonta.
O ombro dele roçou o dela e ela sentiu um estranho tremor no fundo de seu peito. Ela observou enquanto Cam separou seus lábios. Então ela fechou seus olhos.
— Aí estão vocês! — Uma voz sem fôlego tirou Luce diretamente do momento.
Luce soltou um suspiro exasperado e desviou sua atenção para Gabbe, que estava parada diante deles com um rabo-de-cavalo alto e lateral, e um sorriso distraído em seu rosto.
— Eu procurei por todo o lugar.
— Por que diabos você faria isso? — Cam olhou feio para ela, ganhando mais alguns pontos com Luce.
— O cemitério foi o último lugar em que pensei — Gabbe tagarelou, contando em seus dedos. — Eu chequei seus dormitórios, então debaixo das arquibancadas, então...
— O que você quer, Gabbe? — Cam a cortou, como um irmão, como se se conhecessem por muito tempo.
Gabbe pestanejou, então mordeu seu lábio.
— Foi a Senhorita Sophia — ela disse finalmente, estalando seus dedos. — É mesmo. Ela ficou frenética quando Luce não apareceu na aula. Ficou falando como você era uma estudante tão promissora e tudo.
Luce não conseguia decifrar essa garota. Ela era genuína e estava simplesmente seguindo ordens? Ela estava zombando da Luce por ter feita uma boa impressão com uma professora? Não era o bastante para ela ter Justin na palma da mão – ela tinha que dar em cima do Cam agora, também?
Gabbe deve ter pressentido que estava interrompendo algo, mas ela simplesmente ficou parada lá pestanejando seus grandes olhos de corça e torcendo uma mecha de cabelo loiro ao redor de seu dedo.
— Bem, vamos — ela falou finalmente, esticando as duas mãos para ajudar Luce e Cam a se levantarem. — Vamos te levar de volta para a aula.

***

— Lucinda, você pode ficar na estação três — a Senhorita Sophia disse, olhando para baixo para uma folha de papel quando Luce, Cam e Gabbe entraram na biblioteca.
Nada de Onde você esteve? Nada de desconto de pontos pelo atraso. Só a Senhorita Sophia, distraidamente colocando Luce perto de Penn na seção do laboratório de computação da biblioteca. Como se ela nem ao menos tivesse notado que Luce não estava lá.
Luce lançou um olhar acusatório para Gabbe, mas ela simplesmente deu de ombros para Luce e balbuciou:
— O quê?
— Ondevocêesteve? — Penn exigiu assim que ela sentou.
A única pessoa que pareceu ter notado que ela não estivera lá.
Os olhos de Luce acharam Justin, que estava praticamente enterrado em seu computador na estação sete. De seu assento, tudo que Luce conseguia ver dele era a auréola dourado do cabelo dele, mas era o bastante para trazer um rubor à suas bochechas.
Ela afundou ainda mais em sua cadeira, envergonhada novamente pela conversa dos dois no ginásio. Mesmo depois de todas as risadas e sorrisos e aquele potencial quase beijo que ela tinha acabado de partilhar com Cam, ela não conseguia calar o que sentiu quando viu Justin. E eles nunca iam ficar juntos.
Essa era a essência do que ele tinha dito a ela no ginásio. Depois de ela basicamente ter se jogado em cima dele.
A rejeição a cortou tão profundamente, tão perto do seu coração, que ela teve certeza de que todos ao redor dela podiam olhar para ela e saber exatamente o que tinha acontecido.
Penn estava batendo seu lápis impacientemente na mesa de Luce. Mas Luce não sabia como explicar. Seu piquenique com Cam tinha sido interrompido por Gabbe antes que Luce tivesse ao menos sido capaz de realmente achar um sentido no que estava acontecendo. Ou prestes a acontecer. Mas o que era estranho, e o que ela não conseguia entender, era por que tudo isso parecia tão menos importante do que o que tinha acontecido no ginásio com Justin.
A Senhorita Sophia ficou de pé no meio do laboratório de computação, estalando seus dedos no ar como uma professora de jardim para conseguir a atenção de seus estudantes. Suas pilhas de braceletes prata batiam como sinos.
— Se algum de vocês já tiver traçado a sua própria árvore genealógica — ela falou alto sobre o barulho da multidão — então você saberá que tipos de tesouro estão escondidos nas raízes.
— Ah, meu, por favor mate essa metáfora — Penn sussurrou. — Ou me mate. Um ou outro.
— Vocês terão um acesso de vinte minutos a Internet para começar a pesquisar sobre a sua própria árvore genealógica — a Senhorita Sophia disse, batendo num cronômetro. — Uma geração dá aproximadamente vinte a vinte cinco anos, então tenham como objetivo voltar pelo menos seis gerações.
Gemido.
Um suspiro audível irrompeu na estação sete – Justin.
A Senhorita Sophia virou-se para ele.
— Justin? Você tem algum problema com essa tarefa?
Ele suspirou novamente e deu de ombros.
— Não, não mesmo. Tudo bem. Minha árvore genealógica. Deve ser interessante.
A Senhorita Sophia inclinou sua cabeça em escárnio.
— Eu tomarei essa informação como uma confirmação entusiasmada.
Dirigindo-se para a sala novamente, ela disse:
— Tenho certeza de que acharão uma linha que valerá a pena perseguir numa pesquisa de dez a quinze páginas.
Luce não poderia possivelmente se focar nisso agora. Não quando tinha tanto mais para se processar. Ela e Cam no cemitério. Talvez não tenha sido a definição padrão de romântico, mas Luce quase preferia desse jeito. Era como nada que ela já tinha feito antes. Matar aula para perambular por todos aqueles túmulos. Partilhar aquele piquenique, enquanto ele enchia um copo de café. Zombando do medo dela de cobras. Bem, ela podia ter passado sem todo aquele desenvolvimento da cobra, mas pelo menos Cam fora doce em relação a isso. Mais doce do que Justin foi a semana toda.
Ela odiava admitir isso, mas era verdade. Justin não estava interessado. Cam, por outro lado... Ela o estudou, a algumas estações a distância. Ele piscou para ela antes que começasse a trabalhar no seu teclado. Então, ele gostava dela. Callie não iria ser capaz de calar a boca sobre como ele estava tão obviamente a fim dela.
Ela queria ligar para Callie agora, sair correndo dessa biblioteca e deixar sua tarefa sobre a árvore genealógica para mais tarde. Falar sobre outro cara era o jeito mais rápido – talvez o único – de tirar Justin da sua cabeça. Mas havia aquela política telefônica horrível na Sword & Cross, e todos os outros estudantes ao redor dela, que pareciam tão diligentes.
Os minúsculos olhos da Senhorita Sophia procuravam na sala por procrastinadores. Luce suspirou, vencida, e abriu o mecanismo de pesquisa no seu computador. Ela estava presa aqui por mais vinte minutos – sem nenhuma celular cerebral dedicada a sua tarefa. A última coisa que ela queria era aprender sobre sua própria família tediosa. Ao invés, seus dedos apáticos começaram a digitar treze letras inteiramente por conta própria.
Justin Bieber. Buscar.

Continua...

Oi povo bonito, então, se tiver alguma coisa errada aí, ignora, porque eu estou postando pelo celular. Minha internet ainda esta ruim, então eu vou ter que postar por aqui mesmo, JusKiss.

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