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Desde que Luce podia se lembrar, terças-feiras de verão significavam café fresco, tigelas cheias de framboesa com chantilly, e uma interminável pilha de waffles dourados e crocantes. Mesmo este verão, quando seus pais começaram a sentir um pouco de medo dela, o dia do waffle era algo com que ela podia contar. Ela podia rolar na cama na terça-feira, e antes de pensar em qualquer outra coisa, instintivamente ela sabia que dia era.
Luce
inalou, retomando lentamente a seus sentidos, então ela inalou de novo com um
pouco mais de vontade. Não, não havia nenhum leitelho batido, nada além do
cheiro de vinagre da pintura descascada. Ela mandou o sono para longe e captou a
vista de seu dormitório apertado. Isso parecia como a foto de “antes” em um
show de renovação de casa. O longo pesadelo que foi a segunda-feira retornou à
ela: eles tomarem seu celular, o incidente com o bolo de carne e os olhos
brilhantes de Molly no refeitório, Justin expulsando-a da biblioteca. O que foi
que o fez ficar tão rancoroso, Luce não tinha a menor ideia.
Ela
sentou para olhar pela janela. Ainda estava escuro; o sol não tinha sequer
saído pelo horizonte ainda. Ela nunca tinha acordado tão cedo. Se duvidasse,
ela realmente não achava que conseguia se lembrar de já ter visto o nascer do
sol. Sinceramente, algo sobre assistir-o-nascer-do-sol como uma atividade
sempre a deixava nervosa. Eram os momentos de espera, os momentos
logo-antes-do-sol-surgir-no-horizonte, sentada na escuridão olhando através das
linhas das árvores. O horário nobre das sombras.
Luce
suspirou audivelmente com saudades de casa, um suspiro de solidão, o que a
deixou com ainda mais saudade e solitária. O que ela iria fazer durante as três
horas entre o raiar do dia e a sua primeira aula?
Raiar do dia – por que essas
palavras zumbiam em seus ouvidos? Ah. Droga. Ela deveria estar na detenção.
Ela
saltou para fora da cama, tropeçando em sua mala ainda-cheia, e arrancou outro
suéter preto tedioso do topo da pilha de suéteres pretos tediosos. Ela colocou
o jeans preto que usou ontem, estremeceu quando teve um vislumbre do desastre que
estava sua cabeça, e passou os dedos pelo seu cabelo enquanto corria pela porta
afora.
Ela
estava ofegante quando chegou aos portões de ferro forjado, da altura da
cintura e complexamente esculpidos, do cemitério. Estava engasgada com o cheiro
esmagador de mato e se sentindo muito sozinha com seus pensamentos.
Onde estavam os outros? A definição de “início da manhã” deles era diferente da
dela? Ela olhou para seu relógio. Já eram seis e quinze.
Tudo o
que eles tinham dito a ela era para se encontrarem no cemitério, e Luce tinha
bastante certeza de que essa era a única entrada. Ela estava na divisa, onde o
asfalto áspero do estacionamento dava lugar a um terreno destruído cheio de
ervas daninhas. Ela notou um dente-de-leão solitário, e passou pela sua mente
que uma Luce mais jovem teria pulado sobre ele e então feito um desejo e
soprado. Mas agora os desejos dessa Luce pareciam pesados demais para algo tão
leve.
Os
portões delicados eram tudo o que dividia o cemitério do estacionamento.
Incrível para uma escola com tanto arame farpado em todo o lugar. Luce passou a
mão ao longo dos portões, seguindo o padrão floral ornamentado com seus dedos.
Os portões deviam datar dos dias da Guerra da Secessão de que Ariane falara,
quando o cemitério era utilizado para enterrar os soldados caídos. Quando a
escola se juntou a ele, não era um lugar para loucos instáveis. Quando o lugar
todo era muito menos cheio e sombrio.
Isso
era estranho – o resto do terreno era plano como uma folha de papel, mas de
alguma forma, o cemitério tinha um formato côncavo, parecido com uma tigela.
Daqui, ela podia ver a inclinação de toda a vastidão a partir dela. Fileira
após fileira de lápides simples alinhavam-se nas inclinações como espectadores
em um estádio. Mas em direção ao centro, no ponto mais baixo do cemitério, o
trecho através do terreno se torcia em um labirinto de grandes túmulos esculpidos,
estátuas de mármore e mausoléus.
Provavelmente
para oficiais da Confederação, ou apenas para soldados que tinham dinheiro. Pareciam
que seriam bonitos vistos de perto. Mas vistos dali, o simples peso deles
parecia arrastar o cemitério para baixo, quase como se todo o lugar estivesse
sendo engolido por um ralo.
Passos
atrás dela. Luce girou ao seu redor para ver uma figura pequena e grossa,
vestida de preto, surgir de trás de uma árvore. Penn! Ela teve de resistir ao
desejo de jogar seus braços em volta da garota. Luce nunca tinha ficado tão contente
em ver alguém – embora fosse difícil acreditar que Penn tivesse pego alguma
detenção.
— Você
não está atrasada? — Penn perguntou, parando alguns
metros à frente de Luce e dando a ela um aceno divertido de sua-pobre-novata
com a cabeça.
— Eu
estou aqui há 10 minutos — Luce falou. — Não é você quem está atrasada?
Penn
sorriu.
— De
jeito nenhum, eu sou apenas uma madrugadora. Eu nunca peguei detenção. — Ela deu
de ombros e empurrou seu óculos roxo para cima em seu nariz. — Mas
você pegou, junto com outras cinco almas infelizes, que provavelmente estão
ficando mais irritadas a cada minuto que esperam por você lá embaixo no
monólito.
Ela
ficou na ponta dos pés e apontou para trás de Luce, em direção a maior
estrutura de pedra, que se levantava do meio da parte mais profunda do cemitério.
Se Luce apertasse os olhos, ela poderia notar um grupo de figuras negras
agrupadas em torno de sua base.
— Eles
apenas disseram para se encontrar no cemitério — Luce falou,
já se sentindo derrotada. — Ninguém me disse para onde ir.
— Bem, eu
estou dizendo para você: monólito. Agora desça até lá — Peen
falou. — Você não vai fazer muitos amigos acabando com a manhã deles mais
do que você já acabou.
Luce
engoliu em seco. Parte dela queria pedir a Penn para lhe mostrar o caminho. Daqui
de cima, aquilo parecia um labirinto, e Luce não queria ficar perdida no
cemitério. De repente, ela ficou com aquela sensação nervosa, de estar longe de
casa, e ela sabia que isso só iria piorar lá. Ela estalou suas juntas,
retardando.
— Luce? — Penn disse,
dando um pequeno empurrão em seus ombros. — Você
ainda está parada aqui.
Luce
tentou dar uma Penn um sorriso corajoso de agradecimento, mas teve que se
contentar com um estranho tique facial. Então ela correu para baixo da encosta
para o coração do cemitério.
O sol
ainda não tinha nascido, mas estava quase, e estes últimos momentos antes do
amanhecer sempre eram os que mais a assustavam. Ela passou rápido pelas
fileiras de lápides simples. Em um ponto elas deviam ter estado retas, mas
agora elas eram tão velhas que a maioria delas tombava para um lado ou para o
outro, dando ao lugar todo, uma aparência de jogo de dominó mórbido.
Ela
passou seu tênis Converse preto pelas poças de lama, esmagando folhas mortas.
Na hora em que passou pela área mais simples e chegou até os túmulos mais
ornamentados, a terra tinha mais ou menos sido achatada, e ela estava
totalmente perdida. Ela parou de correr, tentou recuperar o fôlego. Vozes. Se
ela se acalmasse, ela poderia ouvir vozes.
— Mais
cinco minutos, então eu vou cair fora — disse
um rapaz.
— Pena
que a sua opinião não tenha valor, Sr. Sparks.
Uma voz
teimosa, uma que Luce reconheceu de suas aulas de ontem. Sra. Troz – a Albatroz.
Após o incidente com o bolo de carne, Luce tinha chegado tarde para a aula dela
e não tinha dado exatamente a impressão mais favorável para a professora severa
e esférica de ciência.
— A não
ser que alguém queira perder seus privilégios sociais esta semana — gemidos
entre os túmulos — vamos todos esperar
pacientemente, como se não tivéssemos nada melhor para fazer, até a senhorita
Price decidir dar a graça de sua presença para nós.
— Eu
estou aqui — Luce arfou, finalmente contornando uma estátua gigante de um
querubim.
Sra.
Troz estava com as mãos nos quadris, vestindo uma variação do vestido preto
florido e solto de ontem. Seu escasso cabelo cor castanho-rato estava puxado na
sua cabeça e seus tediosos olhos castanhos mostravam apenas aborrecimento com a
chegada de Luce. Biologia sempre foi difícil para Luce, e até agora, ela não estava
fazendo nenhum favor à sua nota na classe Sra. Troz.
Atrás
da Albatroz estavam Ariane, Molly e Roland, espalhados ao redor de um círculo
de blocos que encaravam uma grande estátua central de um anjo. Em comparação
com o resto das estátuas, esta parecia mais nova, mais branca, mais grandiosa.
E encostado na coxa esculpida do anjo – ela quase não tinha percebido – estava Justin.
Ele
estava vestindo a jaqueta de couro preta e o cachecol vermelho vivo que a tinha
deixado fixada ontem. Luce tomou conhecimento de seu cabelo dourado desarrumado,
que parecia não ter sido penteado depois dele acordar... o que a fez pensar
sobre como Justin ficava quando estava dormindo... o que a fez corar tão
intensamente que, do momento que seus olhos fizeram o caminho da linha do
cabelo para os olhos dele, ela estava completamente humilhada.
Nesse
momento ele estava olhando fixamente para ela.
— Sinto
muito — ela deixou escapar. — Eu não
sabia onde deveríamos nos encontrar. Eu juro...
— Pode
parar — disse a Sra. Troz, passando o dedo em sua garganta. — Você já
desperdiçou o bastante do tempo de todo mundo. Agora, tenho certeza que todos
se lembram da indiscrição desprezível que vocês cometeram para estarem aqui.
Vocês podem pensar sobre isso nas próximas duas horas enquanto trabalham. Se
reúnam em pares. Vocês sabem o que fazer.
Ela
olhou para Luce e soltou sua respiração.
— Ok,
quem quer uma protegida?
Para o
horror de Luce, todos os outros alunos olharam para seus pés. Mas então, depois
de um minuto torturante, um quinto aluno entrou no campo de visão ao virar a
esquina do mausoléu.
— Eu
quero.
Cam.
Sua camiseta preta com gola em “v” era justa em torno de seus ombros largos.
Ele era quase trinta centímetros mais alto do que Roland, que se deslocou para
o lado quando Cam empurrou e passou, caminhando na direção de Luce. Seus olhos
estavam grudados nela enquanto ele andava para frente, movendo-se suave e
confiantemente, tão à vontade em sua roupa de escola reformatória quanto Luce
estava pouco à vontade. Parte dela queria desviar seus olhos, porque era
embaraçosa a maneira que Cam olhava para ela na frente de todos. Mas por alguma
razão, ela estava hipnotizada. Ela não poderia quebrar o seu olhar – até que Ariane
pisou entre eles.
— Primeiro
— ela falou. — Eu disse que vi primeiro.
— Não,
você não disse.
— Sim, eu
disse, você não me ouviu de seu poleiro estranho lá atrás. — As
palavras se apressaram para fora de Ariane. — Eu a
quero.
— Eu... — Cam
começou a responder.
Ariane
inclinou a cabeça com expectativa. Luce engoliu em seco. Ele ia chegar e dizer
que ele a queria também? Eles não poderiam simplesmente
esquecer isso? Fazer detenção com um grupo de três?
Cam
acariciou o braço de Luce.
— Vou
encontrar com você depois, ok? — ele disse a ela, como se fosse
uma promessa que ela lhe pediu para fazer.
Os
outros garotos pularam dos túmulos nos quais eles tinham sentado e marcharam em
direção a um galpão. Luce os seguiu, agarrando-se em Ariane, que sem dizer uma
só palavra entregou-lhe um ancinho.
— Então.
Você quer o anjo vingador, ou os amantes carnais abraçados?
Não
houve menção sobre os acontecimentos de ontem, ou do bilhete da Ariane, e Luce
de algum modo não sentia que deveria puxar esse assunto com Ariane agora. Em
vez disso, ela olhou para cima e viu-se rodeada por duas estátuas gigantes. A
mais próxima dela parecia um Rodin. Um homem nu e uma mulher estavam enlaçados
em um abraço. Ela tinha estudado escultura francesa em Dover, e sempre pensou
que as peças de Rodin eram as mais românticas. Mas agora era difícil olhar para
os amantes abraçados sem pensar em Justin.
Justin. Que a odiava. Se ela precisasse de mais uma prova
disso depois que ele basicamente fugiu da biblioteca à noite, tudo o que tinha
que fazer era voltar a pensar no novo olhar fulminante que ela tinha ganhado
dele esta manhã.
— Onde
está o anjo vingador? — ela perguntou a Ariane com um
suspiro.
— Boa
escolha. Por aqui.
Ariane
levou Luce para uma enorme escultura de mármore de um anjo salvando o solo da
fúria de um raio. Ela pode ter sido uma peça interessante, no dia em que foi esculpida.
Mas agora ela só parecia velha e suja, coberta de lama e musgo verde.
— Eu não
entendi — Luce falou. — O que vamos fazer?
— Vamos
dar uma esfregadinha — Ariane respondeu, quase
cantando. — Eu gosto de fingir que eu estou lhes dando um banhozinho.
Com
isso, ela escalou o anjo gigante, balançando as pernas ao longo do braço da
estátua que impedia o raio, como se o negócio todo fosse apenas um carvalho
grosso e velho para ela escalar.
Com
medo de parecer que ela estava querendo mais encrenca com a Sra. Troz, Luce
começou a trabalhar com seu ancinho em toda a base da estátua. Ela tentou
limpar o que parecia ser uma interminável pilha de folhas úmidas.
Três
minutos depois, os braços dela a estavam matando. Ela
definitivamente não estava vestida para este tipo de trabalho manual lamacento.
Luce nunca tinha sido enviada para a detenção na Dover, mas de acordo com o que
ela tinha escutado, consistia em encher um pedaço de papel com "Eu não vou
plagiar coisas da Internet" algumas centenas de vezes.
Isto
era brutal. Principalmente quando tudo o que ela realmente tinha feito foi
topar com Molly acidentalmente no refeitório. Ela estava tentando não fazer um
julgamento precipitado aqui, mas limpar a lama de sepulturas de pessoas que
tinham morrido há mais de um século? Agora Luce odiava sua vida totalmente.
Em
seguida, raios de sol finalmente filtraram-se através das árvores, e de repente
havia cor no cemitério. Luce sentiu-se instantaneamente mais leve. Ela podia
ver mais de três metros na frente dela. Ela podia ver Justin... trabalhando
lado a lado com Molly.
O
coração de Luce afundou. O sentimento de leveza desapareceu.
Ela
olhou para Ariane, que lançou-lhe um olhar de simpatia do tipo isso-é-um-saco,
mas continuou trabalhando.
— Hey — Luce falou
em voz alta.
Ariane
colocou um dedo sobre os lábios, mas gesticulou para Luce subir ao lado dela.
Com
muito menos graça e agilidade, Luce agarrou o braço da estátua e se balançou
para cima do pedestal. Uma vez que estava quase certa que não iria cair no
chão, ela sussurrou:
— Então...
o Justin é amigo da Molly?
Ariane
bufou.
— De
jeito nenhum, eles totalmente se odeiam — ela
disse rapidamente, e em seguida fez uma pausa. — Porque você
está perguntando?
Luce
apontou para os dois, não fazendo qualquer trabalho para limpar bem sua tumba.
Eles estavam em pé perto um do outro, inclinando-se sobre seus ancinhos
e tendo uma conversa que Luce desesperadamente desejava poder ouvir.
— Eles parecem
amigos para mim.
— É a
detenção — Ariane disse categoricamente. — Você
tem que ficar em par. Você acha que Roland e Chester, o Molestador, são amigos?
Ela
apontou para Roland e Cam. Eles pareciam estar discutindo sobre a melhor
maneira de dividir o seu trabalho na estátua dos amantes.
— Companheiros
de detenção não equivale a amigos na vida real.
Ariane
olhou de volta para Luce, que podia sentir sua expressão caindo, apesar de seus
melhores esforços para parecer imperturbável.
— Olha,
Luce, eu não quis dizer... — ela dissipou a voz. — Ok,
além do fato de você ter me feito perder uns bons vinte minutos da minha manhã,
eu não tenho nenhum problema com você. Na verdade, eu acho que você é meio
interessante. Um pouco nova. Dito isso, eu não sei o que você esperava em
termos de amizade sentimental-piegas aqui no Sword & Cross. Mas deixe-me
ser a primeira a te dizer, não é simplesmente assim tão fácil. As pessoas estão
aqui porque têm bagagem. Eu estou falando de bagagem do tipo faça-seu-check-in,
e-pague-a-multa-porque-tem-mais-de-vinte-e-dois-quilos. Entendeu?
Luce
encolheu os ombros, sentindo-se envergonhada.
— Foi
apenas uma pergunta.
Ariane
riu nervosamente.
— Você é
sempre tão defensiva? Que diabos você fez para entrar aqui, afinal?
Luce
não tinha vontade de falar sobre isso. Talvez Ariane estivesse certa, seria
melhor se ela não tentasse fazer amigos. Ela desceu e voltou a atacar o musgo
na base da estátua.
Infelizmente,
Ariane ficou intrigada. Ela saltou também, e trouxe seu ancinho em cima do de Luce
para colocá-lo no lugar.
— Oh, me
conta me conta me conta — ela provocou.
O rosto
de Ariane estava muito perto do de Luce. Isso lembrou Luce do dia anterior,
agachada sobre Ariane depois que ela teve a convulsão. Elas tinham tido um
momento, não tinham? E parte de Luce queria muito ser capaz de contar a alguém.
Esse tinha sido um longo e sufocante verão com seus pais. Ela suspirou,
apoiando a testa na alça de seu ancinho.
Um
gosto salgado de nervosismo encheu sua boca, mas ela não conseguiu engoli-lo. Da
última vez que ela tinha entrado nesses detalhes, tinha sido por causa de uma
ordem judicial. Ela teria se esquecido deles logo, mas quanto mais Ariane a
encarava, mais claras as palavras ficavam, e elas ficavam mais perto da ponta
da sua língua.
— Eu
estava com um amigo uma noite — ela começou a explicar, dando
uma respiração longa e profunda. — E uma
coisa terrível aconteceu.
Ela
fechou os olhos, rezando para que a cena não pudesse criar uma explosão de vermelho-e-preto
em suas pálpebras.
— Houve
um incêndio. Eu escapei... e ele não.
Ariane
bocejou, muito menos horrorizada com a história do que Luce estava.
— De
qualquer forma — Luce continuou — depois de tudo, eu não
conseguia me lembrar dos detalhes, como isso aconteceu. O que eu pude lembrar –
o que eu disse ao juiz, de qualquer maneira – eu acho que eles pensaram que eu
era maluca.
Luce
tentou sorrir, mas pareceu forçado.
Para sua
surpresa, Ariane apertou seu ombro. E por um segundo, seu rosto pareceu realmente
sincero. Depois ele mudou para um sorriso afetado.
— Nós
somos todos tão incompreendidos, não somos? — Ela
cutucou Luce no intestino com o dedo. — Você
sabe, Roland e eu estávamos justamente falando sobre como nós não temos nenhum amigo
piromaníaco. E todo mundo sabe que você precisa de um bom piro para levar a
cabo qualquer pegadinha de reformatório que valha a pena. — Ela já
estava planejando. — Roland pensou que talvez aquele
outro novato, Todd, mas eu prefiro muito mais dividir meu fortúnio com você. Todos
nós devemos colaborar em algum momento.
Luce
engoliu em seco. Ela não era uma piromaníaca. Mas ela já estava cheia de falar
sobre o seu passado; ela nem sequer quis se defender.
— Oh,
espere até que Roland ouvir isso — Ariane
disse, jogando seu ancinho para baixo. — Você é como
o nosso sonho se tornando real.
Luce
abriu a boca para protestar, mas Ariane já tinha ido. Perfeito, Luce pensou, ouvindo o barulho dos sapatos de Ariane
andando pela lama. Agora era só uma questão de minutos antes de essas palavras
viajarem por todo o cemitério até chegar a Justin.
Sozinha
novamente, ela olhou para a estátua. Mesmo ela já tendo limpado uma enorme
pilha de musgo e palha, o anjo parecia mais sujo do que nunca. Todo o projeto
parecia tão inútil. Ela duvidava que alguém chegasse a visitar este lugar, de
qualquer maneira. Ela também duvidava que qualquer dos outros detentos ainda
estivesse trabalhando.
Seus
olhos apenas caíram em Justin, que estava trabalhando.
Ele estava usando muito diligentemente uma escova de aço para esfregar alguns
mofos da inscrição em bronze em uma tumba. Ele tinha até mesmo levantado as
mangas de seu suéter, e Luce podia ver seus músculos tensos enquanto ele
trabalhava. Ela suspirou, e – ela não podia fazer nada quanto a isso – inclinou
seu cotovelo contra o anjo de pedra para assisti-lo.
Ele sempre trabalhou duro.
Luce
rapidamente balançou a cabeça. De onde isso tinha vindo? Ela não tinha ideia do
que isso significava. E no entanto, tinha sido ela quem pensara sobre isso. Era
o tipo de frase que por vezes formavam-se em sua mente antes que ela caísse no
sono. Sussurros incompreensíveis que ela nunca podia conectar a qualquer coisa
fora de seus sonhos. Mas aqui estava ela, bem acordada.
Ela
precisava se segurar nessa coisa sobre o Justin. Ela o conhecia há um dia, e já
podia sentir-se deslizando para um lugar muito estranho e desconhecido.
— Provavelmente
é melhor ficar longe dele — disse uma voz fria atrás dela.
Luce
virou ao redor para encontrar Molly, na mesma pose em que ela a achou ontem: as
mãos nos seus quadris, as narinas com piercing queimando. Penn tinha dito a ela
que a surpreendente decisão da Sword & Cross que permitia piercings faciais
veio da própria relutância do diretor de remover o brinco de diamante que ele
tinha em sua orelha.
— De
quem? — ela perguntou a Molly, sabendo que ela tinha soado estúpida.
Molly
revirou os olhos.
— Simplesmente
confie em mim quando digo que ter uma queda por Justin seria uma ideia muito,
muito ruim.
Ela
sabia que o sol estava atrás de uma nuvem. Se ela pudesse quebrar o seu olhar, ela
podia olhar para cima e ver isso por si mesma. Mas ela não conseguia olhar para
cima, não conseguia desviar o olhar, e por alguma razão, ela tinha que apertar
os olhos para vê-lo. Era quase como se Justin estivesse criando sua própria
luz, como se ele estivesse a cegando. Um barulho oco encheu os seus ouvidos, e
seus joelhos começaram a tremer.
Ela
queria pegar seu ancinho e fingir que ela não tinha o visto chegando. Mas era
tarde demais para se fingir de descolada.
— O que
ela disse para você? — ele perguntou.
— Hum... — ela
deu uma evasiva, forçando seu cérebro a criar uma mentira sensata. Não encontrou
nada.
Ela
estalou os nós dos dedos.
Justin
colocou sua mão sobre a dela.
— Eu
odeio quando você faz isso.
Luce
empurrou-o para longe instintivamente. A mão dele sobre a dela tinha sido tão
rápida, e ainda assim ela sentia o seu rosto corar. Ele quis dizer que isso era
uma implicância dele, que o estalo de qualquer um iria
incomodá-lo, certo? Porque dizer que ele odiava quando ela fazia isso implicava que ele já tinha visto ela
fazer isso antes. E ele não poderia ter visto. Ele mal a conhecia. Então por
que isso parecia com uma discussão que eles já tinham tido antes?
— Molly
me disse para ficar longe de você — ela
disse finalmente.
Justin inclinou a cabeça de lado a lado, parecendo considerar isto.
— Ela
provavelmente está certa.
Luce
estremeceu. Uma sombra pairou sobre eles, escurecendo o rosto do anjo apenas
tempo suficiente para deixar Luce preocupada. Ela fechou os olhos e tentou
respirar, rezando para que Justin não pudesse dizer que algo estava estranho. Mas
o pânico estava crescendo dentro dela. Ela queria correr. Ela não podia correr.
E se ela se perdesse no cemitério?
Justin seguiu
o seu olhar para o céu.
— O que
foi?
— Nada.
— Então
você vai fazer isso? — ele perguntou, cruzando os
braços sobre o peito, um desafio.
— O que? — ela
disse. Correr?
Justin deu um passo na direção dela. Agora ele estava a menos de trinta centímetros de
distância. Ela prendeu a respiração. Manteve o corpo completamente imóvel. Ela
esperou.
— Você
vai ficar longe de mim?
Isso
quase parecia como se ele estivesse flertando.
Mas
Luce estava completamente fora de ordem. Sua testa estava molhada de suor, e
ela apertou sua têmpora entre dois dedos, tentando recuperar a posse de seu
corpo, tentando pegá-lo de volta do controle dele. Ela estava totalmente
despreparada para flertar de volta. Isto é, se o que ele estava fazendo era
realmente flertar.
Ela deu
um passo para trás.
— Eu acho
que sim.
— Eu não
ouvi você — ele sussurrou, levantando uma sobrancelha e dando um passo para
mais perto.
Luce
recuou novamente, para mais longe dessa vez. Ela praticamente bateu na base da
estátua, e pôde sentir o pé de pedra arenosa do anjo raspando em suas costas.
Uma segunda sombra, mais escura e mais fria, voou sobre eles. Ela poderia ter
jurado que Justin estremeceu junto com ela.
E então
o gemido profundo de algo pesado assustou os dois. Luce ofegou enquanto o topo
da estátua de mármore balançava em cima deles, como um galho de árvore
balançando ao vento.
Por um
segundo, parecia pairar no ar.
Luce e Justin ficaram olhando para o anjo. Ambos sabiam que o seu caminho era para o
chão. A cabeça do anjo inclinou-se lentamente em direção a eles, como se
estivesse rezando – e depois a estátua inteira pegou velocidade enquanto
começou a ser arremessada para baixo. Luce sentiu as mãos de Justin envolverem
sua cintura instantaneamente, firmemente, como se ele soubesse exatamente onde
ela começava e onde terminava. A outra mão cobriu a cabeça dela e forçou-a para
baixo bem quando a estátua caiu sobre eles. Exatamente onde eles estavam. Ela
caiu com uma queda maciça – de cabeça na lama, com os pés ainda repousando
sobre a base, deixando um pequeno triângulo embaixo, onde Justin e Luce estavam
agachados.
Eles
estavam ofegantes, nariz com nariz, os olhos de Justin assustados. Entre os
seus corpos e a estátua existia apenas alguns centímetros de espaço.
— Luce? — ele
sussurrou.
Tudo o
que ela podia fazer era acenar. Seus olhos se estreitaram.
— O que
você viu?
Em
seguida uma mão apareceu e Luce sentiu-se sendo puxada para fora do espaço
embaixo da estátua. Houve uma raspagem nas suas costas e em seguida uma lufada
de ar. Ela viu o lampejo de luz do dia novamente. A turma da detenção estava
pasma, exceto a Sra. Troz, que olhava com raiva, e Cam, que ajudou Luce a ficar
de pé.
— Você
está bem? — Cam perguntou, correndo os olhos sobre ela procurando por
arranhões e hematomas e tirando a sujeira de seu ombro. — Eu vi a
estátua caindo e eu corri para tentar pará-la, mas já era... Você deve ter
ficado tão apavorada.
Luce
não respondeu. Apavorado era apenas uma parte de como ela se sentia. Justin, já
de pé, nem sequer se virou para ver se ela estava bem ou não. Ele apenas foi
embora.
O
queixo de Luce caiu enquanto o observava ir, enquanto observava todos os outros
parecem não se importar que ele tivesse ido embora.
— O que
você fez? — Sra. Troz perguntou.
— Eu não
sei. Em um minuto, nós estávamos lá — Luce
olhou para a Sra. Troz — hum, trabalhando. Quando me dei
conta, a estátua simplesmente caiu.
A
Albatroz abaixou-se para examinar o anjo despedaçado. Sua cabeça tinha rachado
no meio em uma linha reta. Ela começou a murmurar algo sobre as forças da
natureza e pedras antigas. Mas foi a voz no ouvido de Luce que ficou com ela,
mesmo depois de todos os outros terem voltado ao trabalho. Foi Molly, a apenas
alguns centímetros de seu ombro, que sussurrou:
— Parece que alguém deve
começar a ouvir quando eu dou conselhos.Continua...
ta perfeito, mas esta me dando medo, tipo "Turno do cemitério"...continua logo e por favor divulga --> http://imaginebelieberhotjbieber1994.blogspot.com.br/
ResponderExcluirQue bom que você gosto, rsrs não precisa ficar com medo flor, vou postar o novo capitulo hoje mesmo e é claro que eu divulgo pra você :)
ExcluirEu gostei muito...sou uma fã sua hahaha...
ResponderExcluirAi eu fico muito feliz de você ter gostado :D
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