Na manhã clara e cedo de quinta, um alto-falante estalou no corredor do lado de fora do quarto de Luce:
— Atenção,
Sword & Crossanos!
Luce
rolou com um gemido, mas por mais arduamente que ela comprimisse o travesseiro
ao redor de suas orelhas, pouco adiantava para bloquear o rosnado de Randy no
sistema de alto-falante.
— Vocês
têm exatos nove minutos para aparecer no ginásio para o seu exame físico anual.
Como sabem, nós não temos paciência com vagabundos, então estejam prontos e
preparados para uma avaliação corporal.
Exame
físico? Avaliação corporal? Às seis e meia da manhã? Luce já se arrependia de
ter ficado até tão tarde ontem a noite... e ter ficado acordada até bem mais
tarde deitada na cama, se estressando.
Bem por
volta da hora que ela começou a imaginar Justin e Gabbe se beijando, Luce
começou a se sentir enjoada – aquele tipo específico de enjoo que vinha de
saber que ela fizera papel de boba. Não tinha como voltar para a festa. Só
tinha como sair espreitando da parede e escapar para seu dormitório para
duvidar daquela sensação estranha que ela tinha perto de Justin, aquela que ela
tolamente tomara como algum tipo de conexão. Ela tinha acordado com um gosto
ruim das consequências da festa ainda em sua boca. A última coisa que queria
pensar agora era sobre capacidade física.
Ela
girou seus pés para fora da cama e colocou-os no frio chão de vinil. Escovando
seus dentes, ela tentou imaginar o que a Sword & Cross poderia querer dizer
por “avaliação corporal.” Imagens intimidantes de suas colegas – Molly fazendo
dúzias de levantamentos com cara de má, Gabbe escalando facilmente uma corda de
nove metros em direção ao céu – encheram sua mente. Sua única chance de não
fazer papel de boba – de novo – era tentar tirar Justin e Gabbe de sua mente.
Ela
cruzou a parte sul do campus até o ginásio. Era uma ampla estrutura gótica com
arcobotantes e torres pequenas em pedra não-esculpida que faziam-na parecer
mais com uma Igreja do que um lugar onde se iria para fazer exercícios físicos.
Enquanto Luce se aproximava do prédio, a camada de kudzu cobrindo sua fachada
farfalhava na brisa matinal.
— Penn — Luce
chamou, vislumbrando sua amiga vestindo uma roupa esportiva amarrando seu tênis
no banco.
Luce
olhou para baixo para sua roupa preta e botas pretas regulamentadas e de repente
entrou em pânico por ter perdido algum memorando sobre o código de vestimenta.
Mas então, alguns dos outros estudantes estavam vagabundeando fora do prédio e
nenhum deles parecia muito diferente dela.
Os
olhos de Penn estava grogues.
— Tão
cansada — ela gemeu. — Eu cantei demais ontem a noite.
Achei que poderia compensar ao tentar pelo menos parecer atlética.
Luce
riu enquanto Penn lutava com o nó duplo em seu sapato.
— O que
aconteceu com você ontem a noite, de qualquer jeito? — Penn
perguntou. — Você não voltou pra festa.
— Ah — Luce
disse, enrolando. — Eu decidi...
— Gaaahh — Penn
cobriu seus ouvidos. — Cada som é como uma perfuratriz
no meu cérebro. Me conta mais tarde?
— É claro.
As
portas duplas para o ginásio estavam abertas. Randy saiu com pesados crocs,
segurando sua constante prancheta. Ela acenou para que os estudantes seguissem em
frente, e um por um eles foram designados a sua estação física.
— Todd
Hammond — Randy chamou a medida em que o garoto de joelhos bambos se aproximava.
Os
ombros do Todd desabaram para frente como parêntesis, e Luce conseguia ver resquícios
de um severo bronzeado nas braços e nuca.
— Musculação
— Randy comandou, atirando Todd para dentro.
— Pennyweather
Van Syckle-Lockwood — ela gritou a seguir, fazendo
com que Penn se agachasse e pressionasse suas palmas contra seus ouvidos
novamente. — Piscina — Randy instruiu, esticando a
mão para a caixa de papelão atrás dela e jogando para Penn um maiô único
vermelho com corte nadador.
— Lucinda
Price — Randy continuou, após consultar sua lista.
Luce
deu um passo para frente e ficou aliviada quando Randy disse:
— Piscina
também.
Luce se
esticou para pegar o maiô único no ar. Estava esticado e fino como um pedaço de
pergaminho entre seus dedos. Pelo menos cheirava a limpo. Mais ou menos.
— Gabrielle
Givens — Randy disse a seguir.
Luce se
virou para ver a sua nova pessoa menos favorita resvalar em shorts pretos curtos
e uma fina regata preta. Ela estava nessa escola há três dias... como é que ela
já tinha o Justin?
— Oiii,
Randy — Gabbe disse, arrastando as palavras com um som fanhoso que fez
Luce querer dar uma de Penn e cobrir seus próprios ouvidos.
Tudo menos a piscina, Luce desejou. Tudo menos a piscina.
— Piscina.
Andando
para perto de Penn na direção do vestiário das garotas, Luce tentou evitar
olhar para trás para Gabbe, que girou, em seu dedo indicador com unha
francesinha, o que parecia ser o único maiô fashion na pilha. Ao invés, Luce
focou nas paredes de pedra cinza e na velha parafernália religiosa cobrindo-as.
Ela
passou por cruzes entalhadas floreadamente em madeira com descrições em seu
baixo-relevo da Paixão. Uma série de trípticos desbotados estavam pendurados à
vista, com somente as órbitas das auréolas das imagens ainda iluminadas. Luce
se inclinou para frente para ter uma visão melhor do grande pergaminho escrito
em latim, envolto em vidro.
— Decoração
pra cima, não é? — Penn perguntou, engolindo um
par de aspirinas com um gole d’água de sua bolsa.
— O que
são essas coisas todas? — Luce perguntou.
— História
antiga. As únicas relíquias sobreviventes de quando esse lugar era ainda o
local de Missas, lá nos dias da Guerra da Secessão.
— Isso
explica porque parece tanto com uma igreja — Luce comentou,
parando na frente de uma reprodução de mármore da Pietà de Michelangelo.
— Como
todo o resto nessa possilga, eles fizeram um trabalho porco total em
atualizá-lo. Quero dizer, quem constrói uma piscina no meio de uma igreja
velha?
— Você
está brincando.
— Bem que
eu queria — Penn girou seus olhos. — Todo
verão, o diretor fixa na cabecinha a ideia de me colocar para redecorar esse
lugar. Ele não admite, mas todo o negócio de Deus aqui realmente o apavora. O problema
é que, mesmo que eu sentisse vontade de dar uma ajuda, eu não faço ideia do que
fazer com todo esse lixo, ou mesmo como limpar isso sem ofender, tipo, meio
mundo e Deus.
Luce
lembrou-se nas paredes brancas imaculadas dentro do ginásio de Dover, fileira
após fileira de fotos tiradas profissionalmente de campeonatos estudantis, cada
uma combinando com o mesmo cartão azul-marinho, cada uma exibida em uma moldura
dourada combinando. O único corredor mais santificado na Dover era sua entrada,
que era onde todos os ex-alunos-que-viraram-senadores-estaduais e vencedores da
sociedade Guggenheim e bilionários comuns apresentavam seus retratos.
— Você
poderia pendurar todas as fotos de polícia atuais dos ex-alunos — Gabbe
ofereceu de trás delas.
Luce
começou a rir – era engraçado... e estranho,
quase como se Gabbe tivesse acabado de ler sua mente - mas então ela se lembrou
da voz da garota na noite anterior, dizendo a Justin que ela era a única que ele tinha. Luce rapidamente engoliu
qualquer noção de uma conexão com ela.
— Vocês
estão se dispersando!
Gritou
uma desconhecida treinadora de ginásio, aparecendo do nada. Ela – pelo menos
Luce achava que era ela – tinha uma bucha de cabelo castanho frisado puxado
para trás em um rabo-de-cavalo, panturrilhas como um pernil de porco, e
aparelho dental "invisível” amarelado cobrindo seus dentes de cima. Ela
empurrou as garotas nervosamente para um vestiário, onde a cada uma foi dado um
cadeado com uma chave e direções para um armário vazio com um empurrão.
— Ninguém
se dispersa na vigia da Treinadora Diante.
Luce e
Penn lutaram para entrar em seus maiôs desbotados e frouxos. Luce estremeceu ao
ver seu reflexo no espelho, então cobriu o máximo de si mesma que conseguiu com
sua toalha. Dentro do espaço de natação úmido, ela imediatamente entendeu sobre
o que Penn estava falando. A própria piscina era gigante, tamanho olímpico, um
das poucas características atuais que ela tinha encontrado até então nesse
campus. Mas não era isso que a tornava notável, Luce percebeu espantosamente.
Essa piscina tinha sido construída bem no meio do que costumava ser uma igreja
enorme.
Havia
uma fileira de lindas janelas com vitrais, com apenas alguns painéis quebrados,
atravessando as paredes perto do teto alto e arqueado. Havia nichos de pedra
acesos por luz de vela pela parede. Um trampolim tinha sido instalado onde o
altar provavelmente costumava estar. Se Luce não tivesse sido criada agnóstica
e ao invés, como uma fiel temente a Deus, como o resto de seus amigos no ensino
fundamental, ela poderia ter pensado que esse lugar essa sacrílego.
Alguns
dos outros estudantes já estavam na água, arfando por ar enquanto completavam
suas voltas. Mas eram os estudantes que não estavam na água que capturaram a
atenção de Luce.
Molly,
Roland e Ariane estavam espalhados nas arquibancadas pela parede. Eles estavam rindo
de algo. Roland estava praticamente dobrado, e Ariane estava enxugando
lágrimas. Eles estavam com maiôs e sungas muito mais atraentes do que Luce, mas
nenhum deles parecia que tinha alguma intenção em fazer um movimento na direção
da piscina.
Luce
cutucou seu maiô único caído. Ela queria ir se juntar a Ariane – mas bem quando
ela estava pesando os prós (a possível entrada num mundo de elite) e contras (a
Treinadora Diante repreendendo-a como uma embargadora consciente a exercícios),
Gabbe vagueou até o grupo.
Como se
ela já fosse a melhor amiga de todos eles. Ela tomou um assento ao lado de Ariane
e imediatamente começou a rir também, como se, qualquer que fosse a piada, ela
já tinha entendido.
— Eles
sempre têm bilhetes para ficarem sentados — Penn
explicou, olhando feio para a galera popular nas arquibancadas. — Não me
pergunte como eles se safam disso.
Luce
circundou e hesitou no lado da piscina, incapaz de captar as instruções da
Treinadora Diante. Ver Gabbe e os outros agrupados nas
arquibancadas, estilo garotos descolados, fez Luce desejar que Cam estivesse
lá. Ela conseguia imaginá-lo parecendo sarado em uma reluzente sunga preta,
acenando para que ela viesse para o grupo com seu grande sorriso, fazendo-a se sentir
imediatamente bem-vinda, até mesmo importante.
Luce
sentiu uma necessidade persistente de se desculpar por se evadir da festa dele
mais cedo. O que era estranho – eles não estavam juntos, então não era como se
Luce fosse obrigada a explicar suas idas e vindas para Cam. Mas ao mesmo tempo,
ela gostava quando ele prestava atenção nela. Ela gostava do jeito que ele
tinha um cheiro de ar livre, como dirigir com as janelas abaixadas de noite. Gostava
do jeito que ele sintonizava completamente quando ela falava, imóvel como se
não conseguisse ver ou ouvir mais ninguém além dela. Ela até mesmo gostara de
ser levantada do chão na festa, em plena vista do Justin. Ela não queria fazer
nada para que Cam reconsiderasse o jeito que ele tratava ela.
Quando
o apito da treinadora soou, uma Luce muito assustada levantou-se, então olhou
para baixo com arrependimento enquanto Penn e todos os outros estudantes perto
dela pularam para frente, na piscina.
Ela
olhou para a Treinadora Diante por instruções.
— Você
deve ser Lucinda Price – sempre atrasada e nunca escuta? — A
Treinadora suspirou.
— A Randy
me contou sobre você. São oito voltas, escolha seu melhor estilo de natação.
Luce
assentiu e ficou de pé com seus dedos dos pés curvados perto da beirada. Ela
costumava amar nadar. Quando seu pai a ensinou na piscina comunitária de
Thunderbolt, ela até mesmo ganhara um prêmio como a criança mais nova a já
desbravar as profundezas sem boias. Mas isso foi há anos. Luce não conseguia
nem se lembrar da última vez que tinha nadado. A piscina exterior aquecida da
Dover sempre brilhara, tentando-a – mas era fechada para qualquer um que não
estivesse no time de natação.
A
Treinadora Diante limpou sua garganta.
— Talvez
você não tenha entendido que isso é uma corrida... e você já está perdendo.
Essa
era a “corrida” mais patética e ridícula que Luce já tinha visto, mas isso não
impediu seu lado competitivo de aparecer.
— E...
você ainda está perdendo — a
Treinadora disse, mastigando seu apito.
— Não por
muito tempo — Luce disse.
Ela
checou a competição. O cara a sua esquerda estava cuspindo água de sua boca e
fazendo um nado livre desajeitado. A sua direita, uma Penn com tampão nasal
estava vagarosamente surfando junto, seu estômago descansando em uma pranchinha
de espuma rosa. Por uma fração de segundos, Luce olhou para a multidão nas
arquibancadas. Molly e Roland estavam assistindo; Ariane e Gabbe estavam
desmoronadas uma em cima da outra em um ataque irritante de risadinhas.
Mas ela
não ligava do que elas estavam rindo. Mais ou menos. Ela tinha ido.
Com
seus braços curvados sobre sua cabeça, Luce mergulhou, sentindo suas costas
arquearem enquanto ela deslizava na água ondulada. Poucas pessoas podiam fazer
isso muito bem, seu pai uma vez explicou para uma Luce de oito anos na piscina.
Mas uma vez que você aperfeiçoou o nado borboleta, não havia jeito de se mover
mais rápido na água.
Deixando
seu aborrecimento a propelir para frente, Luce levantou a parte superior de seu
corpo para fora da água. O movimento voltou imediatamente para ela e ela
começou a bater seus braços como asas. Ela nadou mais arduamente do que tinha
nadado em muito, muito tempo. Se sentindo justificada, passou pelos outros
nadadores uma vez, depois outra.
Ela
estava chegando ao fim de sua oitava volta quando sua cabeça apareceu para fora
da água por tempo o bastante para ouvir a voz vagarosa de Gabbe dizer,
“Justin”.
Como
uma vela apagada, o ímpeto de Luce desapareceu. Ela colocou seus pés para baixo
e esperou para ver o que mais Gabbe tinha a dizer. Infelizmente, ela não
conseguiu ouvir mais nada além de um chapinhar ruidoso e, um momento depois, o
apito.
— E o
vencedor é — a Treinadora Diante disse com uma expressão assombrada — Joel
Bland.
O
garoto magrelo de aparelho da raia ao lado pulou para fora da piscina e começar
a fazer barulho para celebrar sua vitória.
Na raia
do lado, Penn parou abruptamente.
— O que
aconteceu? — ela perguntou a Luce. — Você
estava arrasando total com ele.
Luce
deu de ombros. Gabbe era o que tinha
acontecido, mas quando ela olhou para a arquibancada, Gabbe tinha ido, e Ariane
e Molly tinham ido com ela. Somente Roland permanecia onde o grupo estivera, e
ele estava imerso em um livro.
A
adrenalina de Luce tinha crescido enquanto ela nadava, mas agora ela tinha
caído tanto que Penn teve que ajuda-la a sair da piscina.
Luce
observou Roland pular das arquibancadas.
— Você
estava muito bem lá — ele disse, jogando-lhe uma
toalha e a chave do armário do vestiário que ela tinha perdido. — Por um
tempinho.
Luce
pegou a chave no ar e amarrou a toalha ao seu redor. Mas antes que ela pudesse
dizer algo normal, como “Obrigada pela toalha”, ou “Acho que estou simplesmente
fora de forma”, esse novo e estranho lado “cabeça-quente” dela, ao invés,
simplesmente falou:
— O Justin e a Gabbe estão juntos ou o quê?
Grande
erro. Enorme. Ela conseguia dizer pelo olhar nos olhos deles que a pergunta
dela estava direcionada bem para o Justin.
— Ah,
entendi — Roland disse, e riu. — Bem, eu
não sei dizer ao certo...
Ele
olhou para baixo, para ela e coçou seu nariz e deu-lhe o que pareceu ser um
sorriso solidário. Então ele apontou na direção da porta do corredor aberto, e
quando Luce seguiu seu dedo ela viu a silhueta composta e dourada de Justin
passar.
— Por que
você simplesmente não pergunta a ele?
O cabelo
da Luce ainda estava pingando e seus pés ainda estavam descalços quando ela se encontrou
pairando na porta de uma enorme sala de musculação. Ela tinha intencionado ir diretamente
para o vestiário se trocar e secar.
Ela não
sabia por que esse negócio com a Gabbe estava balançando tanto com ela. Justin
podia ficar com quem ele quisesse, certo? Talvez Gabbe gostasse de garotos que
mostrassem-lhe o dedo do meio. Ou, mais provável, esse tipo de coisa não
acontecia com a Gabbe.
Mas o
corpo de Luce venceu sua mente quando ele captou outro vislumbre de Justin. As
costas dele estavam voltadas para ela e ele estava de pé em um canto pegando
uma corda de pular de uma pilha de emaranhados. Ela observou enquanto ele
selecionava uma fina corda azul-marinha com cabos de madeira, então se moveu
para um espaço aberto no centro da sala. Sua pele branquinha estava quase
radiante, e cada movimento que ele fazia, fosse girando seu longo pescoço para
esticar ou se curvando para coçar seu joelho esculpido, fazia Luce ficar
completamente extasiada. Ela ficou pressionada contra a porta, alheia de que
seus dentes estavam tremendo e sua toalha estava ensopada.
Quando
ele levou a corda para trás de seus tornozelos logo antes de começar a pular,
Luce foi golpeada com uma onda de déjà vu. Não era exatamente que ela sentia
que tinha visto Justin pular corda antes, mas mais que a postura que ele tomava
parecia inteiramente familiar.
Ele
ficou de pé com seus pés a uma distância de quadril, destravou seus joelhos,
pressionou seus ombros para baixo enquanto enchia seu peito de ar. Luce quase
podia ter desenhado isso. Foi só quando Justin começou a girar a corda que Luce
saiu do transe... e entrou logo em outro.
Nunca
em sua vida ela tinha visto outra pessoa se mover como ele. Era quase como se Justin
estivesse voando. A corda passou por cima e sobre sua alta estrutura tão
rapidamente que desaparecia, e seus pés – seus graciosos e estreitos pés – eles
ao menos estavam tocando o chão? Ele estava se movendo tão rapidamente, mesmo
ele não devia estar contando.
Um alto
resmungo e uma pancada no outro lado da sala de musculação tirou a atenção de
Luce. Todd estava em um amontoado na base de um dos nós das cordas de escalada.
Ela sentiu, momentaneamente, pena de Todd, que estava olhando para baixo para suas
mãos com bolhas.
Antes
que ela pudesse olhar de volta para Justin para ver se ele tinha notado, uma
fria precipitação negra ao redor de sua pele fez Luce tremer. A sombra
varreu-a, primeiramente devagar, gelada, tenebrosa, seus limites ocultos.
Então, repentinamente bruta, ela golpeou seu corpo e a forçou para trás. A
porta para a sala de musculação bateu em sua cara e Luce ficou sozinha no
corredor.
— Ai! — ela
gritou, não exatamente por estar machucada, mas porque ela nunca fora tocada
pelas sombras antes.
Ela
olhou para baixo para seus braços, onde quase parecera que mãos tinham agarrado-a,
empurrando-a para fora do ginásio.
Isso
era impossível – ela simplesmente tinha estado em um lugar bizarro; um vento
muito forte deve ter passado pelo ginásio. Desconfortável, ela se aproximou da
porta fechada e pressionou seu rosto contra o pequeno retângulo de vidro.
Justin estava olhando em volta, como se tivesse ouvindo algo. Ela tinha certeza que
ele não sabia que era ela: Ele não estava fazendo cara feia.
Ela
pensou na sugestão de Roland de que ela simplesmente perguntasse a Justin o que
estava acontecendo, mas rapidamente dispensou a ideia. Era impossível perguntar
qualquer coisa ao Justin. Ela não queria trazer a tona aquela carranca no rosto
dele. Além do mais, qualquer pergunta que ela talvez pudesse apresentar seria
inútil. Ela já tinha escutado tudo que precisava escutar ontem a noite. Ela
teria que ser algum tipo de sádica para pedir que ele admitisse que estava com
a Gabbe. Ela se virou na direção do vestiário quando percebeu que não poderia
partir.
Sua
chave.
Deve
ter escorregado de suas mãos quando ela tropeçou para fora da sala. Ela ficou
na ponta dos pés para olhar para baixo pelo pequeno painel de vidro na porta.
Ali estava, uma mancada bronze num tapete azul acolchoado. Como tinha ido parar
tão longe na sala, tão perto de onde ele estava malhando? Luce suspirou e
empurrou a porta para abrir, pensando que se tivesse que entrar, pelo menos ela
iria rápido.
Alcançando
sua chave, ela roubou uma última olhada nele. Seu passo estava ficando devagar,
devagar, mas seus pés ainda mal tocavam o chão. E então, com um salto,
leve-como-o-ar, final, ele parou e virou para encará-la.
Por um
momento ele não disse nada. Ela conseguia sentir-se ruborizar e realmente desejou
que não estivesse usando um maiô tão horroroso.
— Oi — foi
tudo que ela conseguiu dizer.
— Oi — ele
disse de volta, em um tom de voz muito mais calmo. Então, gesticulando para o
maiô dela, disse: — Você ganhou?
Luce
deu um riso triste e reticente e balançou sua cabeça.
— Bem
longe disso.
Justin franziu seus lábios.
— Mas
você sempre foi...
— Eu
sempre fui o quê?
— Eu
quero dizer, você parece que talvez seja uma boa nadadora. — Ele
deu de ombros. — Só isso.
Ela deu
um passo na direção dele. Eles estavam a apenas trinta centímetros de
distância. Gotas d’água caíram do cabelo dela e tamborilaram como chuva nos
tapetes do ginásio.
— Não era
isso o que você ia dizer — ela insistiu. — Você
disse que eu sempre...
Justin se ocupou enrolando a corda de pular ao redor de seu pulso.
— É, eu
não quis dizer você você. Eu quis dizer no
geral. Eles sempre devem deixar você vencer a sua primeira corrida aqui. Um
código de conduta não-falado nosso, os mais velhos.
— Mas a
Gabbe também não ganhou — Luce disse, cruzando seus
braços sobre seu peito. — E ela é nova. Ela nem ao menos
entrou na piscina.
— Ela não
é exatamente nova, só está voltando após um tempo... fora.
Justin deu de ombros, não transparecendo nada de seus sentimentos por Gabbe. Sua
tentativa óbvia de tentar parecer despreocupado fez Luce ficar com ainda mais
ciúmes. Ela observou ele terminar de enrolar a corda de pular em uma bobina, o
jeito que suas mãos moviam-se quase tão rapidamente quanto seus pés. E aqui
estava ela, tão desajeitada e solitária e gelada e isolada de tudo por todos. Seu
lábio tremeu.
— Oh,
Luce — ele sussurrou, suspirando pesadamente.
Seu
corpo todo aqueceu por aquele som. A voz dele era tão íntima e familiar. Ela
queria que ele dissesse seu nome novamente, mas ele tinha se virado. Ele
prendeu a corda de pular em um prego na parede.
— Eu deveria
ir me trocar antes da aula.
Ela
descansou uma mão no braço dele.
— Espera.
Ele
empurrou com violência como se tivesse levado um choque – e Luce sentiu isso,
também, mas era o tipo de choque que é bom.
— Você já
teve a sensação... — ela levantou seus olhos para
ele.
De
perto, ela conseguia ver como eles eram diferentes. Eles pareciam castanho claro de
longe, mas de perto havia grãos cor de mel neles. Ela conhecia outra pessoa com
olhos como aqueles...
— Eu
podia jurar que nos conhecemos antes — ela
disse. — Estou louca?
— Louca?
Não é por isso que está aqui? — Ele disse, afastando-a.
— Estou
falando sério.
— Eu
também — o rosto de Justin ficou vazio. — E só
para constar – ele apontou para um dispositivo piscando pregado ao teto – os
vermelhos monitoram os perseguidores.
— Eu não estou
te perseguindo.
Ela
endureceu, muito ciente da distância entre seus corpos.
— Você
pode dizer honestamente que não faz ideia do que eu estou falando?
Justin deu de ombros.
— Eu não
acredito em você — Luce insistiu. — Olhe-me
nos olhos e diga-me que estou errada. Que nunca na minha vida eu te vi antes
dessa semana.
Seu
coração disparou enquanto Justin dava um passo na direção dela, colocando ambas
as mãos em seus ombros. Seus dedões cabiam perfeitamente nas ranhuras de sua
clavícula, e ela queria fechar seus olhos ao calor do toque dele – mas ela não
fechou. Ela observou enquanto Justin curvava sua cabeça para que seu nariz
quase tocasse o dela. Ela conseguia sentir seu hálito em seu rosto. Ela
conseguia sentir um toque de doçura na pele dele.
Ele fez
como pedido. Ele olhou-a no olho e disse, muito vagarosamente, muito
claramente, para que suas palavras não pudessem possivelmente ser
mal-interpretadas:
— Você nunca, na sua vida, me
viu antes dessa semana.Continua...
continua
ResponderExcluirVou sim flor ...
Excluircontinua...
ResponderExcluirClaro, posto hoje mesmo ^.^
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