quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Fallen: Capítulo 17 "Um livro aberto"


Luce desabou sobre a cama, fazendo as molas sacudirem. Depois que ela fugiu do cemitério – e de Justin – ela praticamente correu até seu quarto. Não se preocupou sequer em acender uma luz, por isso acertou a cadeira com o dedinho do pé. Se enrolado em uma bola e segurou seu pé latejante. Pelo menos a dor era algo real com que ela poderia lidar, e é algo deste mundo. Ela estava tão feliz por finalmente estar sozinha.
Houve uma batida na porta.
Ela não poderia ter uma pausa.
Luce ignorou o bater. Ela não queria ver ninguém, e quem quer que fosse iria ficar a dica. Outra batida. Respiração difícil e catarrosa, alergia cheias de som pigarro.
Penn.
Ela não podia ver Penn agora. Ela iria soar como louca se tentasse explicar tudo o que lhe tinha acontecido nas ultimas 24 horas, ou ia ficar louca colocar um cara normal e mantê-lo para si.
Finalmente, Luce ouviu passos de Penn pisando fora no corredor. Ela suspirou aliviada, que se transformou em um gemido longo e solitário.
Ela queria culpar Justin por desencadear esse sentimento fora do controle de dentro dela. E por um segundo, tentou imaginar sua vida sem ele. Só que foi impossível. Como tentando lembrar sua primeira impressão que teve de uma casa depois de você viver nela durante anos.
Isso era o quanto ele a marcou. E agora ela tinha que descobrir uma maneira de passar por todas as coisas estranhas que ele lhe disse esta noite. Mas no fundo da sua mente, ela manteve uma espiral de volta para o que ele disse sobre o tempo que passaram juntos no passado. Talvez Luce não pudesse se lembrar exatamente os momentos que ele tinha descrito, mas de um jeito estranho, as suas palavras não foram de choque total. Foi tudo de alguma forma familiar.
Por exemplo, ela sempre odiou, inexplicavelmente encontros. Até mesmo a visão deles fazia sentir-se enjoada. Ela começou a dizer a mãe que era alérgica, assim ela não tentava empurrar as coisas que havia cozinhado. E ela implorava aos pais a levá-la ao Brasil praticamente sua vida toda, embora nunca pudesse explicar exatamente porque queria ir.
As peônias brancas. Justin tinha dado a ela um buquê após o incêndio na biblioteca. Sempre houve algo tão incomum sobre elas, tão familiar ao mesmo tempo.
O céu era um carvão, com apenas algumas tragadas de nuvens brancas. Seu quarto estava escuro, mas as flores pálidas no petorial na janela se destacaram na obscuridade. Estavam no vaso há uma semana, e não havia uma única pétala murcha. Luce sentou-se e respirou suavemente.
Ela não podia culpá-lo. Sim, ele parecia louco, mas também estava certo – ela foi quem falara com ele de novo e de novo, sugerindo que eles tiveram algum tipo da história. E não foi só isso. Ela também foi a única que viu as sombras, o que encontrava-se envolvido na morte de pessoas inocentes. Ela tinha tentado não pensar sobre Trevor e Todd quando Justin começou a falar sobre a morte dela mesma, ele a havia visto morrer tantas vezes.
Se houvesse alguma forma de entender uma coisa dessas, Luce queria perguntar se Justin já se sentiu responsável. Pela perda dela. Se a sua realidade era feia, infestada pela culpa secreta enfrentada a cada dia.
Ela afundou na sua cadeira, que de alguma maneira fez o caminho para o meio do quarto. Ouch.
Quando ela chegou embaixo dela, tateou a mão até um objeto duro, ela se sentou, e encontrou um livro grosso.
Luce mudou-se para a parede e acendeu seu interruptor de luz, então apertou na feia luz fluorescente. O livro em suas mãos foi um que nunca tinha visto antes. Foi consolidado no pálido pano cinzento, com os cantos desgastados e no interior um cola marrom.
Os Observadores: Mito na Europa Medieval.
Um livro do ancestral do Justin.
Era pesado e tinha um cheiro fraco de fumaça. Ela puxou para fora a nota que foi dobrada na primeira pagina.

"Sim, eu encontrei uma chave reserva e entrei em seu quarto de forma ilegal. Sinto muito. Mas isso é URGENTE! E eu não poderia encontrá-la em qualquer lugar. Onde você está? Você precisa olhar isso, e então precisamos ter uma conversa. Vou voltar por dentro de uma hora. Continue cautelosa.
xoxo,
Penn."

Luce colocou a nota ao lado das flores, pegou o livro e voltou para sua cama. Sentou-se colocando as pernas na beirada da cama. Apenas segurar o livro deu-lhe uma estranha sensação de calor se movimentando bem abaixo de sua pele. O livro parecia quase vivo em suas mãos.
Ela o abriu, esperando ter que decodificar algumas tabelas de conteúdo acadêmico ou vasculhar através de um índice na parte de trás antes de achar algo remotamente relacionado com Justin.
Ela nunca foi além da página do título.
Colado no interior da capa do livro tinha uma fotografia em tom sépia. Era muito velha, no estilo cartão de visita, impressa em papel amarelo-ovo. Alguém tinha rabiscado a tinta na parte inferior: Helston, 1854.
Calor emanou por sua pele. Ela puxou o suéter preto na cabeça, mas ainda se sentia quente com sua regata. A memória da voz de Justin soou em sua mente.
— Eu tenho que viver para sempre — ele disse. — Você vem a cada dezessete anos. Você se apaixona por mim, e eu por você. E isso te mata.
A cabeça de Luce latejava.
— Você é meu amor, Lucinda. Para mim, você é tudo que existe.
Ela observou o contorno da foto colado no interior do livro. O pai de Luce, fascinado por fotografia, teria se maravilhado com o quão bem-preservada a imagem era, quão valiosa devia ser.
Luce, por outro lado, se concentrou sobre as pessoas na imagem. Porque, por mais que cada palavra que Justin falara fosse verdade, não fazia sentido.
Um homem jovem, com cabelos claros cortados e os olhos mais claros, colocados em um elegante casaco preto. Seu queixo levantado e maçãs do rosto bem definidas fez o seu fino olhar ainda mais distinto, mas foram seus lábios que deram a Luce um começo. A exata forma do seu sorriso, combinado com o olhar nos olhos... acrescentou-se a uma expressão que Luce tinha visto em cada um dos seus sonhos nas últimas semanas, E, ao longo dos últimos dois dias, em pessoa.
Este homem era a cara de Justin. O Justin que acabara de lhe dizer que a amava e que ela tinha sido reencarnada dezenas de vezes. O Justin tinha dito tantas outras coisas e Luce não queria ouvi-lo e tinha fugido. O Justin quem tinha abandonado sob as árvores de pêssego no cemitério.
Poderia ter sido apenas uma notável semelhança. Algum parente distante, o autor do livro, talvez, que tinha convergido cada um de seus genes para baixo da árvore de família direto a Justin. Só que o rapaz da foto foi colocado ao lado de uma jovem mulher, que também parecia assustadoramente familiar.
Luce segurou o livro centímetros de seu rosto e se debruçou sobre a imagem da mulher. Ela usava um vestido de seda preta com babados, que envolvia o seu corpo até a cintura em camadas de ondas largas. Havia um bracelete negro em suas mãos, deixando nus apenas seus dedos brancos. Seus dentes pequenos mostraram-se entre seus lábios que se separavam e um sorriso fácil.
Ela tinha a pela clara, alguns tons mais claro que a do homem. Olhos profundos eram cercado por cílios espessos. A maré negra sobre sua cabeça caía em ondas grossas até sua cintura.
Levou um momento para Luce lembrar como respirar e, mesmo assim, ela não podia tirar seus olhos de longe do livro. A mulher na fotografia? Era ela.
Ou Luce tinha razão, e sua memória de Justin tinha vindo de uma viagem esquecida ao Savannah, onde eles posaram para fotos vestido extravagante no Ye Old Photo Booth que ela também não poderia lembrar, ou Justin havia dito a verdade.
Luce e Justin se conheciam. De um momento completamente diferente.
Ela não conseguia recuperar o fôlego. Sua vida inteira jogada num mar turbulento em sua mente, tudo entrou em questão, as sombras escuras que a assombrava, a morte horrível de Trevor, os sonhos.
Ela tinha que encontrar Penn. Se alguém pudesse chegar a uma explicação para tal impossível ocorrência, seria Penn. Com o livro impenetrável e velho dobrado debaixo do braço, Luce deixou seu quarto e correu para a biblioteca.
A biblioteca foi calorosa e vazia, mas algo sobre os tetos altos e intermináveis filas de livros fez Luce ficar nervosa. Andou rápido passado pela nova mesa, que ainda parecia intocada e sem vida. Ela passou o catálogo formidável e não utilizados da seção de referência intermináveis até que atingiu as tabelas de tempo na seção de estudo em grupo.
Em vez de Penn, Luce encontrou Ariane, jogando uma partida de xadrez com Roland. Ela tinha seus pés em cima da mesa e estava usando uma boina listrada. Seus cabelos estavam escondidos sob o chapéu, e Luce notou novamente, pela primeira vez desde a manhã ela cortou o cabelo Ariane, a cicatriz, em mármore brilhante ao longo de seu pescoço.
Ariane estava concentrada no jogo.
Um charuto de chocolate cortado entre os lábios, enquanto contemplava o seu próximo movimento. Roland tinha torcido seus dreads em dois nós na cabeça. Ele estava dando Ariane o olho do falcão, tocando um de seus peões com seu dedo mindinho.
— Xeque-mate, idiota — disse Ariane triunfante, derrubando o rei de Roland, justo quando Luce bateu de frente com sua mesa. — Lululucinda — ela cantou, olhando para cima. — Você está se escondendo de mim.
— Não.
— Tenho ouvido coisas sobre você — Ariane revelou, fazendo Roland inclinar a cabeça com atenção. — Senta e desembucha. Agora.
Luce abraçou o livro ao peito. Ela não queria se sentar. Quis vasculhar a biblioteca procurando por Penn. Ela não poderia conversar com Ariane, especialmente na frente de Roland, que estava limpando suas coisas fora do assento ao lado dele.
— Junte-se a nós — Roland concordou.
Luce abaixou-se relutantemente para a borda do assento. Ela ia ficar alguns minutos. Era verdade que ela não tinha visto Ariane em poucos dias, e em circunstâncias normais, ela teria realmente perdido o jeito engraçado dela. Mas estava longe de serem circunstâncias normais, e Luce não conseguia pensar em nada que não fosse a fotografia.
— Desde que eu só eu limpo o tabuleiro com a bunda de Roland, vamos jogar um jogo novo. Como sobre “quem viu uma foto incriminadora de Luce no outro dia”? — Ariane disse, cruzando os braços sobre a mesa.
— O quê? — Luce saltou para trás.
Ela apertou sua mão com firmeza sobre a capa do livro, certo de que sua expressão tensa estava lhe entregando. Ela nunca deveria tê-lo trazido aqui.
— Vou lhe dar três chances — disse Ariane, revirando os olhos. — Molly tirou uma foto sua entrando num grande carro preto ontem depois da aula.
— Oh — Luce suspirou.
— Ela estava indo para entregar você a Randy — Ariane continuou. — Até lhe dei cobertura. Mmm-hmm — ela estalou os dedos. — Agora, para mostrar sua gratidão, me diz, eles estão te levando escondido para fora do campus para ver um psiquiatra? — Ela baixou a voz a um sussurro e bateu as unhas em cima da mesa. — Ou você ter um amante?
Luce olhou para Roland, que estava dando a ela um olhar fixo.
— Nem — disse ela. — Eu só sai por pouco tempo para poder conversar com o Cam. Não fui exatamente.
— Bam! Pague, Ari — Roland disse, sorrindo. — Você me deve dez dólares.
Luce ficou de boca aberta.
Ariane acariciou a mão dela.
— Não é grande coisa, nós apenas fizemos uma aposta pouco para manter as coisas mais interessantes. Eu achava que era Justin com quem você tinha ido embora, e Roland aqui achou ser Cam. Você está quebrando meu banco, Luce. Eu não gosto disso.
— Eu estava com o Justin— Luce falou, sem saber por que ela sentiu a necessidade de corrigi-la.
Será que eles não têm nada melhor para fazer com suas vidas do que ficarem perguntando o que ela faz com seu tempo?
— Oh — disse Roland, parecendo desapontado. — A trama se complica.
— Roland — Luce virou-se para ele. — Eu preciso te perguntar uma coisa.
— Fale-me.
Ele puxou um bloco de notas e uma caneta fora do seu blazer preto e branco listrado. Segurou a caneta pousada sobre o papel, como um garçom esperando por uma decisão.
— O que você quer? Café? Álcool? Eu só recebo o material duro às sextas. Revistas ‘sujas’(Dirty Magazines)?
— Vodca? — Ariane oferecia, falando com o chocolate na boca.
— Não — Luce sacudiu a cabeça. — Nada disso.
— Ok ordem especial. Deixei o catálogo na sala — Roland encolheu os ombros. — Você pode vir mais tarde?
— Eu não preciso de você para me dar nada. Eu só quero saber... — Ela engoliu em seco. — Vocês são amigos do Justin, certo?
Ele deu de ombros.
— Eu não o odeio.
— Mas você confia nele? Quer dizer, se ele lhe contasse algo que soasse louco, qual seria a probabilidade de acreditar nele?
Roland piscou para ela, parecendo momentaneamente perplexo, mas logo Ariane pulou em cima da mesa, balançando as pernas para o lado de Luce.
— Do que exatamente estamos falando?
Luce se levantou.
— Esqueçam.
Nunca deveria ter levantado o assunto. A bagunça de detalhes voltou correndo para ela. Ela pegou o livro da mesa.
— Eu tenho que ir — disse ela. — Sinto muito.
Ela empurrou a cadeira e se afastou. Suas pernas estavam pesadas e sem brilho, sua mente sobrecarregada.
A lufada de vento levantou o cabelo de sua nuca e em sua cabeça ela procurava pelas sombras.
Nada. Apenas uma janela aberta no alto perto das vigas da biblioteca. Apenas um ninho de pássaro minúsculo enfiado na janela estreita aberta no canto. Escaneando a biblioteca de novo, Luce achou difícil acreditar em seus olhos. Não havia realmente nenhum sinal deles, sem gavinhas como nuvens escuras de tempestade sobre sua cabeça, mas podia sentir a sua proximidade distinta, poderia quase sentir seu cheiro de enxofre no ar salgado. Onde estavam elas, se não iam assombrá-la? Ela sempre pensou nas sombras sempre ao lado dela. Nunca considerou que as sombras pudessem ir para outros lugares, fazer outras coisas, atormentar outras pessoas. Será que Justin as vê também?
Indo pelo canto para a estação de computador na parte de trás da biblioteca, onde ela achava que poderia encontrar Penn, Luce bateu de encontro a Senhorita Sophia. Ambas tropeçaram e Senhorita Sophia segurou em Luce para se firmar. Ela estava vestida de jeans da moda e uma blusa branca longa, com um casaco de lã frisada vermelho amarrado ao redor de seus ombros. Seus óculos verde metálico pendurado em uma corrente de esferas multicoloridas em torno de seu pescoço.
Luce foi surpreendida como o seu aperto era firme.
— Desculpe-me — Luce murmurou.
— Por que, Lucinda, qual é o problema?
Senhorita Sophia pressionou uma palma na esta de Luce.
O cheiro de talco de bebê de suas mãos encheu o nariz de Luce.
— Você não parece bem.
Luce engoliu, não estava disposta a chorar só porque a boa bibliotecária sendo piedosa com ela.
— Eu estou indo bem.
— Eu sei — Senhorita Sophia disse. — Você perdeu a aula de hoje e não estava na social noite passada. Você precisa consultar um médico? Se o meu kit de primeiros socorros não tivesse sido queimado no fogo, eu tiraria sua temperatura aqui.
— Não, bem, eu não sei.
Luce segurou o livro na sua frente e lembrou tudo o que Senhorita Sophia dizia, a partir do início... que foi quando? Só que ela não precisava. Senhorita Sophia tomou um olhar sobre o livro, suspirou, e Luce deu um olhar compreensivo.
— Você finalmente o encontrou, não é? Vem, vamos ter uma conversa.
Mesmo a bibliotecária sabia mais do que Luce fez sobre sua vida. Vidas? Ela não podia descobrir o que tudo aquilo queria dizer, ou como era possível.
Ela seguiu Senhorita Sophia para uma mesa no canto de trás da sessão de estudo. Ela ainda podia ver Ariane e Roland pelo canto do olho, mas parecia que estava fora do alcance sua voz.
— Como você se deparou com isso? — Srta. Sophia acariciou a mão de Luce e ela escorregou seus óculos.
Seus pequenos olhos negros brilharam-pérola de suas lentes bifocais.
— Não se preocupe. Você não está em apuros, querida.
— Eu não sei. Penn e eu estávamos procurando por isso. Foi uma estupidez. Nós achávamos que o autor talvez estivesse relacionado com Justin, mas não sei ao certo. Sempre que íamos procurá-lo, parecia que tinha acabado de ser retirado. Então, quando eu vim para casa esta noite, Penn tinha deixado em meu quarto...
— Então Pennyweather sabe sobre o seu conteúdo, bem?
— Eu não sei — Luce respondeu, sacudindo a cabeça.
Ela podia sentir-se equivocada, mas ainda assim não poderia fazer-se calar. Senhorita Sophia era legal, como a boba avó que Luce nunca teve. A ideia de sua própria avó indo a uma grande compra no supermercado era inimaginável. Além disso, se sentia tão bem apenas por falar com alguém.
— Eu não fui capaz de encontrá-la ainda, por que eu estava com o Justin, e ele está agindo tão estranho, mas na noite passada ele me beijou, e nós ficamos fora desde então.
— Desculpe, querida — disse Senhorita Sophia, um pouco alto demais — mas, você acabou de dizer Justin Bieber beijou você?
Luce cobriu sua boca com suas duas mãos. Ela não poderia desmentir, apenas despejou para Miss Sophia. Ela deveria mesmo ter perdido a cabeça.
— Sinto muito, isso é completamente irrelevante. E embaraçoso. Eu não sei por que saiu.
Ela abanou as bochechas queimando. Já era tarde demais. Através da seção de estudo, Ariane gritou para Luce:
— Obrigado por me dizer!
Seu rosto parecia aturdido. Mas Miss Sophia agarrou a atenção Luce de volta quando ela apertou o livro das mãos de Luce.
— Um beijo entre você e Justin não é irrelevante, querida, é geralmente impossível.
Ela acariciou seu queixo e olhando o teto.
— O que significa... bem, não poderia significar que..
Os dedos de Senhorita Sophia começaram a voar através do livro, seguindo abaixo de cada página em um ritmo rapidamente milagroso.
— O que você quer dizer com “geralmente”? — Luce nunca tinha se sentindo tão deixada de fora da sua própria vida.
— Esqueça o beijo — Senhorita Sophia acenou sua mão em Luce, deixando-a surpresa. — Isso não é nem metade. O beijo não significa nada a menos que... — murmurou sob sua respiração e voltou a virar as páginas.
O que a senhorita Sophia sabia? O beijo de Justin significou tudo. Luce assistia os dedos de Srta. Sophia voando, até que algo em uma das paginas chamou sua atenção.
— Vá para trás — disse Luce, colocando sua mão sobre a da bibliotecário para detê-la.
Senhorita Sophia inclinou-se lentamente como Luce voltando as finas páginas translúcidas.
Lá. Ela apertou a mão a seu coração. Na margem estava uma série de desenhos esboçados em tinta negra. Feito rapidamente, mas em uma mão elegante, fino. Por alguém com certo talento. Luce correu os dedos sobre os desenhos, levando-o dentro. A inclinação do ombro de uma mulher, visto de costas, seu cabelo amarrado em um coque baixo. Delicados joelhos nus cruzados uns sobre os outros, levando a uma cintura sombria. Um longo pulso fino dando forma a uma mão aberta na qual um grande peônia completa descansando.
Justin— Lucinda — Senhorita Sophia parecia nervosa, avançando lentamente sua cadeira longe da mesa. — Você está se sentindo bem?
— Oh, Justin— sussurrou Luce, desesperado para estar perto dele novamente, ela enxugou uma lágrima.
— Ele está condenado, Lucinda — Senhorita Sophia disse em uma voz surpreendentemente fria. — Vocês dois estão.
Condenado...
Justin tinha falado de ser condenado. Essa era a sua palavra para tudo isso. Mas ele estava se referindo a si mesmo. Não a ela.
— Condenados? — Luce repetiu.
Apenas, ela não queria ouvir mais nada. Tudo o que ela queria era encontrá-lo.
Senhorita Sophia estalou os dedos na frente do rosto de Luce. Luce conhecia os olhos, lentamente, languidamente, sorrindo bobo.
— Você ainda está acordada — Senhorita Sophia murmurou. Ela fechou o livro com uma pancada, chamando a atenção de Luce, e colocou as mãos sobre a mesa. — Ele te disse alguma coisa? Após ter-lhe beijado, talvez?
— Ele me disse... — Luce começou. — Parece loucura.
— Essas coisas costumam parecer.
— Ele disse que nós dois... nós somos uma espécie de amantes desafortunados.
Luce fechou os olhos, lembrando seu longo catálogo de vidas passadas. No início, a ideia parecia tão estranha, mas agora que ela estava se acostumando com isso, pensou que só poderia ser a coisa mais romântica que já aconteceu na história do mundo todo.
— Ele falou sobre todos as épocas em que nos apaixonamos, no Rio, em Jerusalém, Taiti.
— Isso não soa um pouco louco — disse Senhorita Sophia. — Então, é claro, você não acredita nele?
— Eu não acreditei em primeiro lugar — Luce falou, pensando no seu desacordo aquecido sob o pessegueiro. — Ele começou trazendo a Bíblia, que o meu instinto é para sintonizar Fora — ela mordeu sua própria língua. — Sem ofensa. Quer dizer, eu acho que sua aula é realmente interessante.
— Não levei para mim... Muitas vezes as pessoas evitam o religioso em torno da sua idade. Você não é nova, Lucinda.
— Oh — Luce estalou os nós dos dedos. — Mas eu não tive uma educação religiosa. Meus pais não acreditam nisso, então...
— Todo mundo acredita em alguma coisa. Certamente você já foi batizada.
— Não. Se você não contar a piscina dentro da igreja... — Luce falou timidamente, apontando o polegar para o ginásio da Sword & Cruz.
Sim, ela comemorou o Natal, foi à igreja um punhado de vezes, e mesmo quando a sua vida fez e todos ao seu redor miserável, ela ainda tinha fé que tinha alguém ou algo acreditando nela. Isso foi sempre o suficiente para ela.
Através da sala, ouviu um barulho alto. Ela olhou para cima para ver que Roland havia caído de sua cadeira. A última vez que ela olhou para ele, ele estava inclinado sobre duas pernas da cadeira, e agora parecia que a gravidade tinha finalmente vencido.
Como ele tropeçou em seus pés, Ariane foi ajudá-lo. Ela olhou e ofereceu uma onda apressada.
— Ele está bem! — Chamou alegremente. — Levante-se! — ela sussurrou em voz alta para Roland.
Senhorita Sophia estava sentada muito quieta, com as mãos no colo, debaixo da mesa. Ela pigarreou algumas vezes, virou de volta para a capa do livro e correu os dedos sobre a fotografia, então disse:
— Será que ele vai revelar mais alguma coisa? Você sabe quem é Justin?
Devagar, sentando direito em sua cadeira, Luce perguntou:
— Você sabe?
A bibliotecária soou dura.
— Eu estudo essas coisas. Eu sou uma acadêmica. Eu não entendo assuntos do coração.
Essas foram as palavras que ela usou – mas a veia pulsando em seu pescoço, o brilho quase invisível de suor que pontilhava em sua testa, respondeu a Luce que sim.
Sobre suas cabeças, o antigo relógio gigante e negro atingiu as onze horas. O ponteiro dos minutos tremia com o esforço para se encaixar em seu lugar, e toda a geringonça vibrou por tanto tempo que interrompeu a conversa entre elas. Luce nunca tinha percebido como o clock, clock dele era tão alto. Agora, cada campainha doía. Ela havia sido afastada de Justin por muito tempo.
—O pensamento do Justin... — Luce começou a dizer — noite passada, quando nos beijamos, ele pensou que eu ia morrer. — Srta. Sophia não parecia tão surpresa como Luce teria gostado que fosse. Luce estalou seus dedos. — Mas isso é loucura, não é? Eu não estou indo a lugar algum.
Senhorita Sophia tomou o seu óculos bifocais e esfregou os olhos pequenos.
— Por agora.
— Oh Deus — Luce sussurrou, sentindo o mesmo medo que sentiu quando deixou Justin no cemitério.
Mas por quê? Deveria ter algo que ele não estava dizendo a ela – algo que ela sabia que tinha o poder de fazê-la sentir muito, muito menos medo. Algo que ela já sabia por si mesma, mas não podia acreditar. Não até que ela viu seu rosto novamente.
O livro ainda estava aberto para ela na fotografia. De cabeça para baixo, o sorriso de Justin olhou preocupado, como ele sabia, como disse que sempre fez, que estava vindo do próximo canto. Ela não podia imaginar o que ele devia estar passando agora. Para ter aberto a história misteriosa que compartilhavam – apenas para tê-la rejeitando tão completamente. Ela tinha que encontrá-lo.
Ela fechou o livro e o colocou de volta sob o seu cotovelo. Então se levantou e empurrou sua cadeira.
— Onde você está indo? — Senhorita Sophia perguntou nervosamente.
— Encontrar Justin.
— Eu vou ir com você.
— Não.
Luce sacudiu a cabeça, imaginando-a lançando seus braços em volta de Justin com a bibliotecária da escola por perto.
— Você não tem que vir. Realmente.
Senhorita Sophia estava toda ocupada quando abaixou-se para amarrar o cadarço do seus sapatos. Levantou-se e colocou a mão no ombro de Luce.
— Confie em mim. Sword & Cross tem uma reputação a defender. Você não acha que nós deixamos os alunos andando por aí durante a noite, não é?
Luce resistiu, imaginando se a bibliotecária sabia de sua escapadela recente para fora dos portões da escola. Ela gemeu dentro por dentro. Porque não trazer o corpo estudantil para que pudessem apreciar o drama? Molly poderia tirar fotos, Cam poderia escolher outra luta. Por que não começar por aqui, e pegar Ariane e Roland, que ela já tinha começado, já tinham desaparecidos.
A Senhorita Sophia, livro na mão, já tinha se retirado para a entrada. Luce teve que correr para alcançá-la, apressando-se após o catálogo, o tapete persa chamuscado na recepção e os casos de vidro cheio de relíquias da guerra civil no leste da asa coleções especiais, onde ela tinha visto Justin esboçar o cemitério na primeira noite que esteve aqui.
Elas pisaram fora na noite úmida.
A nuvem passou a lua e o campus caiu na escuridão. Então, como se uma bússola tivesse sido colocada em sua mão, Luce era guiada na direção das sombras. Ela sabia exatamente onde elas estavam. Não na biblioteca, mas não muito longe também. Ela não podia vê-las ainda, mas podia senti-las, o que era muito pior. Sentia uma coceira terrível, revestindo sua a pele, penetrando em seus ossos e sangue como o ácido. O ar perto do cemitério – e além – um cheiro forte de enxofre.
Eles estavam muito maior agora. Parecia que todo o ar no campus foi tomado por um cheiro deplorável de decadência.
— Onde está o Justin? — Senhorita Sophia perguntou.
Luce percebeu que embora a bibliotecária pudesse saber um pouco sobre seu passado, ela parecia óbvia para as sombras. Isso fez com que Luce sentisse medo e só, responsável por qualquer coisa que estava prestes a acontecer.
— Eu não sei — respondeu, sentindo como se ela não pudesse ter o bastante oxigênio no ar do pantanoso da noite.
Ela não quis dizer as palavras que ela sabia que iria levá-los perto – perto demais – de tudo o que a estava fazendo ter tanto medo. Mas ela tinha que ir para o Justin.
— O deixei no cemitério.
Elas atravessaram o campus, evitando manchas sombras de lama deixadas pelo aguaceiro do outro dia. Apenas algumas luzes estavam no dormitório à direita. Através de uma das grades da janela, Luce viu uma menina que ela mal conhecia debruçada sobre um livro.
Eles estavam no mesmo bloco de aulas da manhã. Ela era uma garota mal-encarada, com um piercing no nariz – Luce nunca tinha ouvido falar dela. Ela não tinha ideia se ela era infeliz, ou se gostava de sua vida. Luce admirou o momento: Se pudesse trocar de lugar com esta menina – que nunca teve de se preocupar com vidas passadas, ou sombras apocalípticas ou as mortes de dois meninos inocentes em suas mãos – ela faria isso?
O rosto de Justin– do jeito que tinha sido banhada em luz violeta quando ele a levou para casa esta manhã – apareceu diante de seus olhos. Seus cabelos brilhantes. O jeito como só o toque dos seus lábios fazia com que fosse transportada longe de qualquer escuridão.
Por ele, ela iria sofrer tudo isso, e mais. Se ela soubesse o quanto mais existia.
Ela e Senhorita Sophia corriam para frente, após passar pela arquibancada e pelo o refeitório, em seguida, o campo de futebol. Professora Sophia realmente manteve em forma. Luce teria se preocupado com o seu ritmo, se a mulher não estivesse alguns passos à frente dela.
Luce foi se arrastando. Seu medo de enfrentar as sombras era como um furacão de força retardando-a para baixo. E ainda assim estava se pressionando. Uma náusea esmagadora disse que ela tinha apenas vislumbrado que as coisas escuras poderiam realizar.
Nos portões do cemitério, elas pararam. Luce estava tremendo, abraçando-se em uma fracassada tentativa de escondê-la. Uma garota estava de costas para elas, olhando para o cemitério abaixo.
— Penn! — Luce chamou, tão contente de ver o sua amiga.
Quando Penn voltou-se para eles, seu rosto estava pálido. Ela usava um blusão preto, apesar do calor e os óculos eram de uma escuridão úmida. Ela estava tremendo tanto quanto Luce.
Luce ofegante.
— O que aconteceu?
— Eu estava vindo procurar por você — Penn relatou — e depois um monte de outras crianças correram. Eles foram lá — ela apontou para as portas. — Mas eu não p-p-podia.
— O que é isso? — Luce perguntou. — O que é lá embaixo?
Mas mesmo que ela pediu, ela sabia que uma coisa que estava lá embaixo, uma coisa que Penn nunca seria capaz de ver. A sombra preta foi persuadindo Luce para ela, Luce estava sozinha.
Penn estava piscando rápido. Ela parecia apavorada.
— Não sei  ela falou finalmente — no início pensei que fossem fogos de artifício. Mas nada surgiu no céu.  Ela estremeceu. — Algo ruim está para acontecer. Eu não sei o quê.



Continua...

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