Fazia um bom tempo desde que Luce havia dado uma boa olhada no espelho. Ela costumava nunca se importar com seu reflexo, seus olhos claros esverdeados, seus pequenos dentes retos, seus espessos cílios e sua densa cabeleira negra.
Isso era antes. Antes do verão passado. Após a mãe dela ter cortado todo o seu cabelo, Luce havia começado a evitar espelhos. Não era só por causa do cabelo curto, ela não achava que gostava mais de quem era, então não queria ver nenhuma evidência. Ela começou a olhar para baixo e para as mãos quando as lavava no banheiro. Ela mantinha seu rosto olhando para frente quando passava em frente a janelas de vidros fumados e desviava de pós compactos com espelhos.
Mas vinte minutos antes do horário que ela deveria se encontrar com Cam, Luce ficou parada em frente ao espelho no banheiro feminino vazio em Augustine. Ela achava que aparentava bem. O cabelo estava finalmente crescendo, e o peso estava começando a soltar alguns dos seus cachos. Ela deu checada nos dentes, então endireitou os ombros e olhos para o espelho como se estivesse olhando Cam nos olhos. Ela tinha que lhe dizer algo, algo importante, e queria ter certeza de que conseguiria manobrar um olhar que exigisse que ele a levasse a serio.
Ele não havia ido à aula hoje. Nem Justin, então Luce presumiu que Mr. Cole havia colocado os dois em algum tipo de liberdade condicional. Ou isso ou eles estavam lambendo as feridas. Mas Luce não tinha duvidas que Cam iria esperar por ela hoje.
Ela não queria vê-lo. De jeito nenhum. Pensar sobre os punhos dele batendo em Justin fez o estômago dela se revirar. Mas era culpa dela eles terem brigado, em primeiro lugar.
Ela havia iludido Cam e se ela fez por que ela estava confusa ou lisonjeada ou estivesse o menor que seja interessada não importava mais. O que importava era que ela fosse direta com ele hoje. Não havia nada entre eles.
Ela respirou fundo, puxou sua camiseta em direção aos quadris e abriu a porta do banheiro. Se aproximando dos portões, não conseguia vê-lo. Mas então, era difícil ver qualquer coisa além da zona de construção no estacionamento. Luce não havia estado de volta à entrada da escola desde que eles haviam começado as renovações ali e ela estava surpresa do quão complicado era se mover através do esburacado estacionamento. Ela desviou de poças e tentou se esquivar do radar da equipe de construção, abanando a fumaça do asfalto que parecia nunca dissipar.
Não havia sinal de Cam. Por um segundo ela se sentiu tola, quase como se tivesse caído em algum tipo de pegadinha. Os portões de metal alto eram cheios locais descascados e ferrugem vermelha.
Luce olhou através deles para um bosque fechado de antigas olmeiras do outro lado da rua. Ela estalou as juntas dos dedos, pensando na vez que Justin havia lhe dito que ele odiava quando ela fazia aquilo. Mas ele não estava ali para vê-la fazer aquilo, ninguém estava. Então ela notou um papel dobrado com o nome dela nele. Estava preso no galho espesso da árvore de magnólia próxima ao interfone.
Eu estou salvando você dos eventos sociais esta noite. Enquanto nossos colegas estudantes apresentam uma reencenação da Guerra Civil triste, mas verdadeira, você e eu iremos pintar a cidade de vermelho. Um sedan preto com uma placa dourada irá trazer você até mim. Achei que nós dois podiam usar uma dose de ar fresco.
C.
Luce tossiu da fumaça. Ar fresco era uma coisa, mas um sedan preto a buscando no campus? Para levá-la até ele, como se ele fosse algum tipo de monarca que podia arranjar em um impulso para que mulheres fossem buscadas? Onde estava ele afinal?
Nada disso era parte do plano dela. Ela havia concordado se encontrar com Cam somente para dizer a ele que ele estava sendo muito avançado e ela realmente não conseguia se ver se envolvendo com ele. Porque, apesar de que ela nunca contará a ele, cada vez que os punhos dele atingiram Justin na noite anterior, algo dentro dela havia se esquivado e começado a ferver.
Claramente ela precisava cortar essa coisinha com o Cam pela raiz. Ela tinha o colar dourado de serpente no bolso. Era hora de devolvê-lo.
Exceto que agora ela se sentia estúpida por presumir que Cam iria querer só conversar. É claro que ele tinha uma carta na manga. Ele era esse tipo de cara.
O som das rodas do carro desacelerando fez Luce virar a cabeça. Um sedan preto parou em frente aos portões. A janela esfumada do banco do motorista moveu-se para baixo e uma mão peluda saiu e pegou o receptor do interfone do lado de fora dos portões. Após um momento, o receptor estava de volta no seu lugar e o motorista se inclinou sobre sua buzina.
Finalmente os grandes portões de metal gemeram e se abriram, e o carro entrou parando na frente dela. As portas se destrancaram suavemente. Ela ia mesmo entrar naquele carro e ir para sabe-se-lá-onde para se encontrar com ele?
A última fez que ela havia estado parada naqueles portões havia sido para dizer adeus aos pais dela.
Sentindo falta deles antes mesmo deles irem embora, ela havia abanado daquele mesmo lugar, próxima do interfone quebrada dentro dos portões e, se lembrava de ter notado uma câmera de segurança mais moderna. O tipo com detectores de movimento, dando zoom nela toda vez que ela se movia. Cam não podia ter escolhido um ponto pior para o carro buscar ela.
Do nada ela teve visões do confinamento solitário na cela do porão. Paredes de cimento úmido e baratas correndo pelas pernas dela. Sem luz de verdade. Os rumores ainda estavam correndo pelo campus sobre aquele casal, Jules e Phillip, que não haviam sido mais vistos desde que haviam escapado. Cam achava que Luce queria tanto ver ele que ariscaria saindo do campus em plena visão dos vermelhos?
O carro ainda estava com o motor ligado em frente a ela. Após um momento, o motorista, um homem de óculos escuros estilo esportivo com um pescoço grosso e cabelos ralos estendeu sua mão. Nela estava um pequeno envelope branco. Luce hesitou um segundo antes de ir para frente e tirar ele dos dedos dele.
O material personalizado de Cam. Um cartão pesado cor marfim com o nome dele impresso em letras douradas no canto inferior à esquerda.
Devia ter mencionado antes, os vermelhos foram vedados. Veja por si mesma. Eu cuidei disso, como irei cuidar de você. Vejo você logo, espero.
Vedados? O que ele quis dizer? Ela ousou dar uma olhada para os vermelhos. Ele o fez. Um círculo de fita preta havia sido colocado perfeitamente sobre as lentes da câmera. Luce não sabia como essas coisas funcionavam ou quanto tempo levaria para a escola descobrir, em uma maneira estranha, ela estava aliviada por Cam ter pensado em cuidar disso. Ela não podia imaginar Justin pensando tão à frente.
Callie e os pais dela estavam esperando telefonemas esta tarde. Luce havia lido a carta de dez páginas da Callie três vezes e tinha todos os detalhes engraçados da viagem do final de semana da amiga dela a Nantucket memorizados, mas ainda não saberia como responder a qualquer uma das perguntas de Callie sobre sua vida na Swords & Cross. Se ela se virasse e fosse para dentro para pegar o telefone, não saberia como começar a contar à Callie e seus pais sobre a sinistra virada que os últimos dois dias haviam tomado. Mais fácil não contar nada a eles, ou até que ela encerrasse as coisas de um jeito ou de outro.
Ela deslizou no luxuoso assento de couro bege do sedan e colocou o cinto. O motorista ligou a ignição do carro sem dizer uma palavra.
— Aonde nós vamos — ela perguntou a ele.
— Um lugarzinho que fica no remanso do rio. Sr. Briel gosta das cores locais. Apenas se recoste e relaxe, querida. Você verá.
Sr. Briel? Quem era esse cara? Luce nunca gostou que a mandassem relaxar, especialmente quando parecia uma ameaça para não fazer mais nenhuma pergunta. De qualquer maneira, ela cruzou os braços sobre o peito, olhou para fora da janela e tentou esquecer do tom do motorista quando ele a chamou de “querida”.
Através dos vidros escuros, as árvores lá fora e a estrada cinza pavimentada embaixo delas pareciam marrons. Na virada onde a bifurcação levava à Thunderbolt, o sedan preto virou para o leste. Eles estavam seguindo o rio em direção à costa. Uma vez ou outra, quando o caminho deles e o rio convergiam, Luce podia ver a água turva marrom se retorcendo ao lado deles.
Vinte minutos depois o carro desacelerou até parar em frente ao bar batido de beira de rio. Era feito de uma madeira cinza, apodrecida e inchada, havia marcas de água sobre a porta da frente vermelha que se lia Estige em irregulares letras vermelhas pintadas a mão. Bandeirolas de plástico de propaganda de cerveja haviam sido grampeadas em um feixe de madeira embaixo do telhado de zinco, uma tentativa medíocre de festividade. Luce estudou as imagens impressas nos triângulos de plástico, palmeiras e garotas bronzeadas de biquínis com garrafas de cerveja nos seus lábios sorridentes, e se perguntou quando foi a última vez que uma garota de verdade havia colocado os pés naquele lugar.
Dois punks mais velhos se sentaram fumando no banco que ficava de frente para a água. Moicanos cansados caiam sobre as testas de meia idade deles, e as suas jaquetas de couro tinham uma aparência feia e suja de algo que eles estivessem usando desde que punk era novidade. A expressão vazia dos seus bronzeados e caídos rostos fazia a cena toda parecer ainda mais desolada.
O pântano que beirava a rodovia de duas vias havia começado a cobrir o asfalto, e a estrada parecia meio que sumir por entre a grama do pântano e a lama. Luce nunca havia estado tão longe no rio pantanoso.
Enquanto estava sentada, incerta do que faria uma vez que saísse do carro, ou se essa era realmente uma boa ideia, a porta da frente do Estige se abriu abruptamente e Cam andou para fora.
Ele se inclinou descontraidamente contra a janela da porta, uma perna cruzada sobre a outra. Ela sabia que ele não podia vê-la através do vidro escuro do carro, mas ele levantou sua mão como se pudesse e gesticulou para ela ir até ele.
— Aqui vai nada — Luce resmungou antes de agradecer o motorista.
Ela abriu a porta e foi recebida por uma rajada de vento salgado enquanto subia os três degraus até a varanda de madeira do bar.
O cabelo bagunçado de Cam estava solto ao redor do rosto dele e ele tinha uma expressão calma em seus olhos verdes. Uma manga da camiseta preta dele estava puxada sobre o ombro dele, e Luce podia ver a suave marcação do bíceps dele. Ela dedilhou a corrente de ouro no bolso dela.
Lembre-se porque você está aqui.
O rosto de Cam não mostrava nenhum sinal da briga da noite anterior, o que a fez se perguntar, imediatamente, se Justin tinha alguma marca.
Cam a deu um olhar inquisitivo, correndo sua língua ao longo do seu lábio inferior.
— Eu só estava calculando quantos drinques de consolação eu precisaria se você me desse o cano hoje — ele falou, abrindo os braços para um abraço.
Luce andou até eles. Cam era uma pessoa muito difícil de dizer não, até mesmo quando ela não estava totalmente certa sobre o que ele estava pedindo.
— Eu não daria o cano em você — respondeu, então imediatamente se sentiu culpada, sabendo que as palavras dela vieram do senso de dever, não o romance que Cam teria preferido. Ela estava ali somente porque ela ia dizer a ele que não queria se envolver com ele. — Então, o que é esse lugar? E desde quando você tem um serviço de carro?
— Cola em mim, criança.
Ele pareceu tomar a pergunta dela como um elogio, como se ela gostasse de ser arrastada para bares que cheiravam como o interior de um ralo de pia. Ela era tão ruim nesse tipo de coisa. Callie sempre dizia que Luce era incapaz de honestidade brutal e era por isso que ela ficava presa em tantas situações desagradáveis com caras que ela devia apenas ter dito não. Luce estava tremendo. Ela tinha que desabafar aquilo. Ela pescou no seu bolso e tirou o pendente.
— Cam.
— Oh que bom, você trouxe — ele pegou o colar das mãos dela e a girou. — Deixe-me ajudar você a colocá-lo.
— Não, espere.
— Pronto. Ele realmente combina com você. Dê uma olhada.
Ele a acompanhou ao longo do assoalho de madeira que rangia até a janela do bar, onde um numero de bandas havia colocado posters para shows. OS VELHOS BEBES. PINGANDO COM ÓDIO. RACHADORES DE CASAS. Luce teria preferido estudar qualquer um deles a olhar seu reflexo.
— Viu?
Ela não conseguia distinguir direito as feições dela no enlameado vidro da janela, mas o pendente de ouro brilhava na sua pele quente. Ela pressionou sua mão nele. Ele era adorável. E tão distinto, com sua pequena serpente esculpida a mão pairando no centro. Não era como nada que você vê nas vitrines dos mercados, onde vendedores locais superfaturam os trabalhos manuais para turistas, suvenires da Geórgia feito nas Filipinas.
Atrás do reflexo dela na janela, o céu estava com uma cor rica de laranja-picolé, quebrado por linhas finas de nuvens rosa.
— Sobre a noite passada... — Cam começou a dizer.
Ela conseguia ver vagamente os lábios rosados dele se moverem pelo vidro sobre os ombros dela.
— Eu queria falar sobre a noite passada, também — Luce interrompeu, parando do lado dele. Ela podia ver as pontas da tatuagem em formato de raios de sol atrás do pescoço dele.
— Venha para dentro — ele falou, guiando-a de volta para a porta de tela meio caída. — Nós podemos conversar lá.
O interior do bar era de madeira plainada, com algumas fracas lâmpadas laranja provendo a única luz. Todos os tamanhos e formar de galhadas estavam amontoados na parede, e uma pantera empalhada posava sobre o bar, parecendo pronta para da o bote a qualquer momento.
Um retrato desbotado composto com as palavras CONDADO DE PULASKI CLUBE DE OFICIAIS ALCE 1964-1965 era a única outra decoração na parede, mostrando cem faces ovais, sorrindo modestamente acima de laços cor pastel. O jukebox tocava Ziggy Stardust, e um cara mais velho com a cabeça raspada e calça de couro estava cantarolando e dançando sozinho no meio de um pequeno palco elevado. Além de Luce e Cam, ele era a única outra pessoa naquele lugar.
Cam apontou para dois banquinhos. As almofadas verdes de couro gastas haviam se partido no meio, a espuma bege saia para fora como um pedaço maciço de pipoca. Já havia uma taça pela metade onde Cam havia se sentado. A bebida nela era marrom e aguada com gelo, banhada com suor.
— O que é isso? — Luce perguntou.
— Luar da Geórgia — ele falou, tomando um gole. — Eu não o recomendo para começar. — Quando ela olhou torto para ele, ele falou — eu estive aqui o dia inteiro.
— Encantador — Luce respondeu, dedilhando o colar de ouro. — Quantos anos você tem, setenta? Sentado em um bar sozinho o dia inteiro?
Ele não parecia obviamente bêbado, mas ela não gostava da ideia de ir toda aquela distância até lá para terminar tudo com ele, e ele estar bêbado demais para entender. Ela estava começando a se perguntar como iria voltar para a escola. Nem sabia onde era aquele lugar.
— Ai — Cam esfregou seu coração. — A beleza de ser suspenso das aulas, Luce, é que ninguém sente a sua falta durante as aulas. Eu achei que eu merecia um tempinho para me recuperar — ele levantou a cabeça. — O que está realmente incomodando você? É este lugar? Ou a briga da noite passada? Ou o fato de não estarmos tendo nenhum atendimento? — ele elevou a voz para gritar as ultimas palavras, alto o bastante para fazer um enorme, bruto bartender se virar em frente a porta da cozinha atrás do bar.
O barman tinha cabelos longos, repicados com franja, e tatuagens que pareciam cabelos humanos trançados que percorriam seus braços de cima a baixo. Ele era só músculos e devia pesar uns cento e cinquenta quilos.
Cam se virou para ela e sorriu.
— Qual é a sua bebida?
— Eu não me importo — Luce falou. — Eu na verdade não tenho minha própria bebida.
— Você estava bebendo champagne na minha festa — Cam falou. — Viu quem estava prestando atenção? — ele esbarrou nela com seu ombro. — Seu champagne mais fino aqui.
Ele falou para o bartender que jogou a cabeça para trás e soltou uma risada maléfica.
Não fazendo nenhuma tentativa de ver a identidade dela ou até mesmo olhá-la tempo o bastante para adivinhar sua idade, o bartender se abaixou sobre um pequeno refrigerador com uma porta de vidro de correr. As garrafas se bateram enquanto ele procurava e procurava. Após o que pareceu como um longo tempo, ele emergiu novamente com uma pequena garrafa de Freixenet.
Parecia que tinha uma coisa laranja crescendo em volta da base.
— Eu não aceito nenhuma responsabilidade por isso — ele falou, entregando a garrafa.
Cam estourou a rolha e elevou sua sobrancelha a Luce. Ele serviu o Freixebet cerimoniosamente nas taças de vinho.
— Eu queria me desculpar. Sei que eu tenho forçado um pouco a barra. E a noite passada, o que aconteceu com Justin, eu não me sinto bem a respeito daquilo — ele esperou Luce consentir com a cabeça antes de continuar. — Ao invés de ficar bravo, eu só devia ter te ouvido. É com você que eu me importo, não ele.
Luce observou as bolhas subirem no seu espumante, pensando que se ela tivesse que ser honesta, diria que era com Justin que se importava, não Cam. Ela tinha que contar a Cam. Se ele já se arrependia de não tê-la escutado na noite passada, talvez agora ele iria começar a ouvir. Ela ergueu a taça dela para beber um gole antes de começar.
— Oh, espere — Cam colocou sua mão no braço dela. — Você não pode beber até que nos tenhamos brindado alguma coisa. — Ele ergueu a taça dele e segurou os olhos dela. — O que deve ser? Você escolhe.
A porta de tela bateu e os caras que haviam estado fumando na varanda entraram. O mais alto, com cabelos pretos oleosos, nariz cortado e unhas muito sujas, deu uma olhada em Luce e foi até eles.
— O que estamos celebrando? — o homem a olhou, batendo na taça erguida dela com seu copo.
Ele se inclinou mais perto, e ela pôde sentir a carne dos quadris dele pressionando os dela através da camisa de flanela.
— É a primeira noite fora do bebê? Qual é a hora do toque de recolher?
— Nós estamos celebrando você levando seu traseiro de volta para fora agora mesmo — Cam falou agradavelmente como se ele tivesse anunciado que era o aniversário de Luce.
Ele fixou os olhos verdes no homem, que mostrou seus pequenos dentes pontudos e a boca cheia de gengiva.
— Lá fora, é? Só se eu levar ela comigo.
Ele agarrou a mão de Luce. Após o jeito que a briga com Justin havia começado, Luce esperava que Cam precisaria de pouca desculpa para perder o controle de novo. Especialmente se ele realmente tivesse bebido o dia inteiro. Mas Cam se manteve excepcionalmente calmo.
Tudo que ele fez foi espanar a mão do cara para longe com a velocidade, graça e força brutal de um leão espanando um rato.
Cam assistiu o cara cambalear para trás vários passos. Ele sacudiu sua mão com uma expressão desinteressada no rosto, então acariciou o pulso de Luce onde o cara tinha tentado agarrá-la.
— Lamento por isso. Você estava dizendo, sobre a noite passada?
— Eu estava dizendo... — Luce sentiu o sangue drenar de seu rosto.
Diretamente sobre a cabeça de Cam, uma enorme sombra preta havia se aberto, se esticando para frente e se desdobrando até que se tornou a maior, mais negra sombra que ela jamais havia visto. Um sopro de ar ártico soprou de seu centro, e Luce sentiu o gelo da sombra mesmo nos dedos de Cam, ainda traçando a pele dela.
— Oh. Meu. Deus — ele sussurrou.
Houve um estrondo de vidro quando o cara quebrou o copo sobre a cabeça de Cam. Lentamente, Cam ficou de pé em frente a cadeira dele e sacudiu alguns dos estilhaços de vidro do cabelo. Ele se virou para encarar o homem que era facilmente duas vezes a sua idade e vários centímetros mais alto.
Luce se acovardou em seu banco de bar se esquivando do que ela sentia que estava prestes a acontecer entre Cam e esse outro cara. E o que ela temia que poderia acontecer com a espalhada, negra como a noite sombra que estava sobre as cabeças
— Separando — o enorme bartender falou categoricamente sem nem se preocupar em tirar os olhos da sua revista de luta.
Imediatamente, o cara começou a lançar socos cegamente em Cam, que tomou os socos sem sentido como se eles fossem tapas vindas de uma criança.
Luce não era a única espantada pela compostura de Cam. O dançarino-usador-de-calças-de-couro estava se acovardando contra o jukebox. E após o cara de cabelo oleoso socar Cam algumas vezes, até ele foi para trás e ficou ali, confuso.
Enquanto isso, a sombra estava se juntando contra o forro, ramos escuros como ervas e descendo para cada vez mais perto de suas cabeças. Luce se retraiu e se esquivou assim que Cam se esquivou de um último soco do cara sórdido. E então decidiu contra-atacar.
Foi só um simples movimento dos dedos dele, como se Cam estivesse retirando uma folha morta. Em um minuto, o cara estava em cima de Cam, mas quando os dedos de Cam conectaram com o peito do oponente dele, o cara foi voando, jogado de pés para cima no ar, garrafas de cerveja se quebrando com sua subida até as costas dele baterem na parede oposta próxima ao jukebox.
Ele esfregou a cabeça e, gemendo, começou a se amontoar e ficar agachado.
— Como você fez aquilo?
Os olhos de Luce estava arregalados.
Cam ignorou-a, se virou em direção ao amigo mais baixo, mais parrudo do cara e falou:
— Você é o próximo?
O segundo cara levantou suas palmas.
— Não é minha briga, cara — ele falou, se esquivando para longe.
Cam encolheu os ombros, andou em direção ao primeiro cara e o levantou do chão pelas costas da camiseta dele. Seus membros balançavam vulneravelmente no ar, como de uma marionete. Então, com um fácil giro de pulso, Cam jogou o cara contra a parede. Ele quase parecia grudar lá enquanto Cam se soltou, socando o cara e dizendo de novo e de novo:
— Eu falei vá para fora!
— Basta! — Luce gritou, mas nenhum deles ouviu ou se importou.
Luce se sentiu mal. Ela queria tirar os olhos do nariz e gengivas sangrentas do cara pendurado contra a parede, da força quase sobre humana de Cam. Ele queria dizer a ele para esquecer, que ela acharia o caminho para escola sozinha. Ela queria, mais que tudo, fugir da sombra medonha que agora cobria o teto e pingava pelas paredes. Ela agarrou a sua bolsa e correu noite adentro. Direto nos braços de alguém.
— Você está bem? — era Justin.
— Como você me encontrou aqui? — ela perguntou
E sem vergonha nenhuma enterrando sua face no ombro dele. Lágrimas com as quais ela não queria lidar estavam se enchendo dentro dela.
— Venha. Vamos sair daqui.
Sem olhar para trás, ela deslizou sua mão para dentro da mão dele. Calor se espalhou acima do braço dela e através do seu corpo. E então as lágrimas começaram a rolar. Não era justo se sentir tão a salvo quando as sombras ainda estavam tão perto.
Até Justin parecia agitado. Ele estava arrastando-a através do lote tão rápido, ela quase precisou correr para alcançá-lo.
Ela não queria olhar para trás quando sentiu as sombras se derramarem para fora da porta do bar e ganhar forma no ar. Mas então, não precisava. Elas flutuaram em um fluxo constante sobre a cabeça dela, sugando toda a luz do caminho deles. Era como se o mundo inteiro estava sendo rasgado em pedaços bem diante de seus olhos. Um cheiro podre de enxofre ficou preso em seu nariz, pior do que qualquer coisa que ela conhecia.
Justin olhou para cima também, e fez uma careta, só que parecia que ele estava apenas tentando se lembrar onde tinha estacionado. Mas então a coisa mais estranha aconteceu. As sombras se encolheram para trás, se afastando em jatos pretos que se aglomeravam e dispersavam.
Luce vagou seus olhos em descrença. Como Justin tinha feito aquilo? Ele não tinha feito aquilo, ou tinha?
— Quê? — Justin perguntou, distraído. Ele destrancou a porta do lado do carona de um branco Taurus Station Wagon. — Alguma coisa errada?
— Nós não temos tempo para eu listar todas as muitas, muitas coisas que estão erradas — Luce falou, se afundando no acento do carro. — Olha.
Ela apontou em direção a entrada do bar. A porta de tela se abriu e Cam apareceu. Ele deve ter desacordado o outro cara, mas não parecia que tinha estado em uma briga. Os punhos dele estavam fechados.
Justin sorriu e sacudiu a cabeça. Luce estava brigando com seu sinto de segurança inutilmente de novo e de novo na fivela até Justin estender suas mãos e tirar as mãos dela do caminho.
Ela segurou a respiração enquanto os dedos dele roçaram o estômago dela.
— Tem um truque — ele sussurrou, encaixando a tranca na base.
Ele ligou o carro e, em seguida recuou lentamente, tomando seu tempo enquanto eles passavam a porta do bar. Luce não conseguia pensar em uma única coisa a dizer a Cam, mas sentiu perfeito quando Justin abriu a janela e disse simplesmente.
— Boa noite, Cam.
— Luce — Cam falou andando em direção ao carro. — Não faça isso. Não vá embora com ele. Vai acabar mal.
Ela não podia olhos nos olhos dele, os quais ele sabia que estavam apelando para ela voltar.
— Eu sinto muito.
Justin ignorou Cam inteiramente e só dirigiu pântano parecia nublado no crepúsculo, e as matas em frente a eles pareciam ainda mais nubladas.
— Você ainda não me disse como me achou aqui — Luce falou. — Ou como você sabia que eu vim me encontrar com Cam. Ou onde você conseguiu esse carro.
— É da Srta Sophia — Justin explicou, ligando o farol alto enquanto as árvores cresciam juntas a frente e deixando a estrada na sombra densa.
— Srta Sophia deixou você pegar o carro dela emprestado?
— Depois de anos vivendo em Skid Row em L.A. — ele falou encolhendo os ombros — você pode dizer que eu tenho um toque mágico quando se fala em “pegar emprestado”.
— Você roubou o carro da Srta. Sophia? — Luce indagou, perguntando-se como a bibliotecária iria anotar este desenvolvimento em seus arquivos.
— Nós vamos levar de volta. Além disso, ela estava muito preocupada com a noite da encenação da Guerra Civil. Algo me diz que ela não vai nem mesmo notar que ele se foi.
Foi só aí que Luce percebeu o que Justin estava vestindo. Ela assimilou o uniforme azul de soldado da União dele com sua ridícula tira de couro jogada diagonalmente sobre o peito dele. Ela tinha estado tão aterrorizada das sombras, de Cam, de toda a horrorosa cena que ela não tinha nem pausado para assimilar Justin.
— Não ria — Justin falou, tentando não rir. — Essa noite você se safou do possivelmente pior evento social do ano.
Luce não conseguiu se conter. Ela estendeu o braço e bateu com o dedo em um dos botões de Justin.
— Uma pena — ela falou, usando um sotaque sulista. — Eu tinha acabado de mandar passar meu vestido-bela-do-baile.
Os lábios de Justin se contorceram em um sorriso, mas então ele suspirou.
— Luce, essa noite, as coisas podiam ter acabado muito feio. Você sabia disso?
Luce olhou para a estrada, incomodada que a atmosfera havia mudado tão de repente para uma depressiva. Uma coruja cantadora olhou para ela de uma árvore.
— Eu não tinha a intenção de vir aqui. — Ela falou o que parecia ser verdade. Foi quase como se Cam tivesse enganado ela. — Eu queria não ter vindo — ela adicionou quietamente, se perguntando onde a sombra estava agora.
Justin bateu os punhos no volante fazendo-a pular. Ele estava ringendo os dentes, e Luce odiava que ela era quem havia feito ele parecer tão zangado.
— Eu não consigo acreditar que você está envolvida com ele.
— Eu não estou — ela insistiu. — A única razão que me fez aparecer era para dizer a ele… — era sem sentido.
Envolvida com Cam! Se Justin soubesse que ela e Penn passavam a maioria do tempo delas pesquisando a família dele… bem, ele provavelmente ficaria igualmente irritado.
— Você não precisa se explicar — Justin falou, acenando com a mão. — É minha culpa de qualquer jeito.
— Sua culpa?
Àquela altura Justin havia saído da rua e parado o carro em uma pequena estrada de areia. Ele apagou os faróis e eles ficaram olhando para o oceano. O céu acinzentado estava com um tom extraordinariamente profundo e o pico das ondas pareciam quase prata, brilhando. A grama da praia sacudia no vento, fazendo um alto, desolado som de assovio. Um bando de gaivotas sentaram em uma longa linha ao longo do parapeito da passarela, ajeitando as penas.
— Nós estamos perdidos? — ela perguntou.
Justin a ignorou. Ele saiu do carro e fechou a porta, começou a andar em direção a água. Luce esperou dez agonizantes segundos, assistindo a silhueta dele ir diminuindo no crepúsculo púrpura, antes de pular para fora do carro e segui-lo.
O vento jogou o cabelo dela contra seu rosto. Ondas batiam na costa, levando linhas de conchas e algas marinhas de volta para sua contracorrente submarina. O ar estava mais frio perto da água. Tudo tinha um aroma forte de maresia.
— O que está acontecendo, Justin? — ela perguntou, correndo ao longo da duna. Ela se sentiu mais pesada andando na areia. — Onde nós estamos? E o que você quis dizer, é sua culpa?
Ele se virou para ela. Ele parecia tão abatido, sua fantasia de uniforme toda amassada, seus olhos cor de mel opacos. O barulho das ondas quase abafou a voz dele.
— Eu só preciso de um tempo para pensar.
Luce sentiu um nó crescendo de novo na sua garganta. Ela finalmente havia parado de chorar, mas Justin estava dificultando tudo.
— Por que me resgatar então? Por que vir todo o caminho até aqui para me apanhar, então gritar comigo e me ignorar? — ela secou os olhos na barra da camiseta preta dela e o sal do mar nos dedos dela fizeram seus olhos arderem. — Não que isso seja alguma diferença do jeito que você tem me tratado na maioria do tempo, mas...
Justin se virou e bateu na testa dele com as duas mãos.
— Você não entende, Luce — ele sacudiu a cabeça. — Isso é o que você nunca entende.
Não tinha nada maldoso na voz dele. De fato, era quase bondosa demais. Como se ela fosse lenta demais para captar o que quer que seja que era tão óbvio para ele. O que a fez ficar absolutamente furiosa.
— Eu não entendo? — ela perguntou. — Eu não entendo? Deixe eu te dizer uma coisa sobre o que eu não entendo. Você se acha tão esperto? Eu passei três anos com uma bolsa integral na melhor escola preparatória do país. E quando eles me chutaram, eu tive que fazer uma petição, petição! Para que eles não apagassem meu histórico das minha notas quatro-ponto-zero.
Justin se afastou, mas Luce perseguiu-o, dando um passo a frente a cada passo de olhos arregalados que ele dava para trás. Provavelmente assustando-o, mas e daí? Ele estava pedindo por isso toda vez que ele era condescendente com ela.
— Eu sei latim e francês, e no ensino médio, ganhei a feira de ciências três anos seguidos.
Ela tinha encurralado ele contra o parapeito da passarela e estava tentando se segurar para não cutuca-lo no peito com o dedo. Ela não tinha terminado.
— Eu também faço as palavras cruzadas do jornal Sunday, algumas vezes em menos de uma hora. Eu tenho um preciso sentido de direção... apesar de isso nem sempre se aplicar aos garotos — ela engoliu e tomou um momento para recuperar o fôlego. — E algum dia, eu serei uma psiquiatra que realmente ouve os pacientes e ajuda pessoas. Ok? Então não fique falando comigo como se eu fosse uma estúpida e não me diga que eu não entendo só porque eu não consigo decodificar seu errado, falho, quente-num-minuto-frio-no-outro, francamente — ela olhou para ele, soltando a respiração — realmente insensível comportamento.
Ela secou as lágrimas, zangada consigo mesma por ter ficado tão exaltada.
— Cala a boca — Justin falou, mas ele falou suavemente e tão carinhosamente que Luce surpreendeu ambos ao obedecer.
— Eu não acho que você é estúpida — ele fechou os olhos. — Eu acho que você é a pessoa mais esperta que eu conheço. E a mais gentil. E... — ele engoliu, abrindo os olhos para olhar diretamente para ela — A mais bonita.
— O que?
Ele olhou para o oceano.
— Eu só... estou tão cansado disso.
Ele parecia tão exausto.
— Do quê?
Ele olhou para ela, com a mais triste expressão no rosto dele, como se ele tivesse perdido algo precioso. Esse era o Justin que ela conhecia, apesar de ela não poder explicar como ou de onde. Este era o Justin que ela... amava.
— Você pode me mostrar — ela sussurrou.
Ele sacudiu a cabeça. Mas os lábios dele ainda estavam tão perto dos dela. E a expressão nos olhos dele era tão fascinante. Era quase como se ele quisesse que ela mostrasse para ele primeiro.
O corpo dela tremia de nervos enquanto ela ficava nas pontas dos pés e se inclinava em direção a ele.
Ela colocou a mão na bochecha dele e ele piscou, mas não se moveu. Ela se moveu lentamente, tão lentamente, como se estivesse com medo de assustá-lo, cada segundo sentindo se petrificar. E então, quando eles estavam perto o bastante que os olhos dela estavam quase vesgos, ela os fechou e pressionou os lábios dela contra os dele.
O mais leve, como uma pena, toque dos lábios deles era tudo o que os conectava, mas um fogo que Luce jamais havia sentido antes passou por ela, e ela soube que ela precisava mais de tudo de Justin. Seria pedir demais que ele precisasse dela da mesma maneira, segurá-la nos braços dele como ele havia feito tantas vezes nos sonhos dela, retribuir o beijo esperançoso dela com um mais poderoso. E ele o fez.
Os músculos dos braços dele circularam a cintura dela. Ele a puxou até ele, e ela podia sentir a linha definida dos seus corpos conectando, pernas se enrolando em pernas, quadris pressionados em quadris, peitos arfando em sincronia um com o outro. Justin a colocou com as costas contra o parapeito da passarela, prendendo-a mais perto dele até que ela não conseguia de mover, até ele tê-la exatamente onde ela queria estar. Tudo isso sem nenhuma vez quebrar a apaixonada ligação de seus lábios.
E então ele começou a realmente beijá-la, carinhosamente a principio, fazendo sutis, adoráveis sons de selinhos no ouvido dela. E então longo e doce e ternamente ao longo da mandíbula dela e abaixando até o pescoço dela, fazendo-a gemer e jogar sua cabeça para trás. Ele puxou firmemente no cabelo dela e ela abriu os olhos para vislumbrar, por um segundo, as primeiras estrelas aparecerem no céu da noite. Ela se sentiu mais perto do céu do que ela jamais sentiu antes.
Finalmente, Justin voltou aos lábios dela, beijando-a com tanta intensidade, sugando os lábios inferiores dela, então esticando sua língua macia só até um pouco depois dos dentes dela. Ela abriu mais a boca, desesperada para deixar mais dele entrar, finalmente sem medo de mostrar o quanto ela ansiava por ele. Para empatar a força dos beijos dele com a dela.
Ela tinha areia na boca e entre seus dedos do pé, o vento salgado levantou arrepios em sua pele, e o mais doce, sentimento de fascinação derramava do seu coração.
Ela poderia, naquele momento, ter morrido por ele.
Ele se afastou e olhou para ela, como se quisesse que ela dissesse algo. Ela sorriu para ele e beijou ele delicadamente nos lábios, deixando os lábios dela perdurar nos dele. Ela não conhecia nenhuma palavra, não tinha maneira melhor de comunicar o que ela estava sentindo, o que ela queria.
— Você ainda está aqui — ele suspirou.
— Eles não conseguiriam me arrastar — ela riu.
Justin deu um passo para trás e com um olhar sombrio para ela, o sorriso dele havia sumido. Ele começou a andar de um lado para o outro, esfregando sua testa com as mãos.
— O que está errado? — ela perguntou levemente, puxando as mangas dele para que ele voltasse para outro beijo.
Ele correu os dedos pelo rosto dela, pelo seu cabelo, ao redor do pescoço. Como se ele estivesse se certificando que ela não era um sonho.
— Esse foi seu primeiro beijo de verdade?
Ela achou que não devia contar Trevor, então tecnicamente era. E tudo parecia tão certo, como se ela tivesse sido destinada para Justin, e ele para ela. Ele cheirava... lindo. A boca dele tinha um gosto doce e rico. Ele era alto e forte e estava escorregando do abraço dela.
— Onde você está indo? — ela perguntou.
Seus joelhos dobrados e ele afundaram alguns centímetros, inclinando-se contra o parapeito de madeira da passarela e olhando para o céu. Ele parecia estar com dor.
— Você disse que nada poderia arrastar você — ele falou em uma voz apressada. — Mas elas vão. Talvez só estejam atrasadas.
— Elas? Quem? — Luce perguntou, olhando ao redor para a praia deserta. — Cam? Eu acho que despistamos ele.
— Não — Justin começou a andar para longe pela passarela. Ele estava tremendo. — É impossível.
— Justin.
— Vai vir — ele sussurrou.
— Você está me assustando.
Luce seguiu atrás tentando alcançar. Porque de repente, mesmo não querendo, ela tinha o pressentimento que sabia o que ele queria dizer. Não Cam, mas outra coisa, alguma outra ameaça.
A mente de Luce pareceu enuviada. As palavras dele bateram em seu cérebro, soando estranhamente verdade, mas o raciocínio por trás deles escapou dela. Como o fio de um sonho que ela não conseguia se lembrar dele todo.
— Fale comigo. Me diga o que está acontecendo.
Ele se virou, sua face pálida como o florescer de uma peônia, os braços dele erguidos em rendição.
— Eu não sei como parar isso — ele suspirou. — Eu não sei o que fazer.Continua...